A tragédia do dia 15 de fevereiro, que assolou a cidade de Petrópolis, completa três meses neste domingo. Depois de quase 90 dias, muitas ruas ainda acumulam entulhos, ainda há desabrigados que não tiveram acesso ao Aluguel Social e três pessoas continuam desaparecidas. Dias que se acumularam e poucas soluções chegaram aos que precisam. A chuva que levou casas, levou histórias e levou vidas.
No dia 15 de fevereiro, a Rua Teresa, famoso polo de moda de Petrópolis, se transformou em um cenário composto por lama e muita sujeira. Em menos de uma semana a rua já estava livre para a circulação de pessoas e veículos, as lojas foram abrindo aos poucos e tudo parecia estar voltando ao normal. Mas na altura do shopping 608, da Servidão Honorato da Silva Pereira até a Rua Nova, o cenário é completamente diferente, a via foi liberada, mas os entulhos das casas que foram arrastadas pela barreira, não foram retirados. O cheiro e o cenário são impactantes.
Jorge perdeu cinco familiares com a barreira que caiu na região. Da casa em que morava, ele viu a lama e as pedras descerem, destruindo tudo o que estava pela frente. “Eu estava na minha casa e eu vi tudo, sem poder fazer nada. Eu não consegui prestar socorro porque a água subiu 3 ou 4 metros de altura… Só quem viu, acredita que isso aconteceu”, contou o aposentado Jorge Ferreira.
O aposentado conta ainda que, depois de 90 dias, a terra foi revirada, mas os entulhos continuam no local e nenhuma obra foi iniciada. Ele, que está morando na casa do filho, fala que tem o sonho de voltar para casa. “Eu quero voltar… daqui a um ano, sei lá. Aqui era muito bom, muito gostoso de morar. A gente nunca espera que vai acontecer com a gente. Quem imagina que essa terra toda vai vir lá de cima? É muito triste”, contou ele.
Diego Martins é vizinho de Jorge e teve o muro da casa levado por uma outra barreira que também caiu na servidão. Como muitos, a casa onde vivia foi interditada e ainda não há previsão de quando ele vai poder retornar, tendo em vista que serviços de luz e água não foram liberados para serem reinstalados. Ainda segundo ele, apesar da interdição, o imóvel não tem risco. “Na chuva do dia 15 de fevereiro acabou caindo uma barreira e o meu muro não suportou. Eu fui o único da rua que ficou sem relógio de água e de luz e eu não posso voltar, porque a área está interditada e eu não posso instalar. Até agora nenhuma obra começou, está tudo praticamente na mesma”, contou Diego.
Jorge e Diego pedem para que o poder público dê mais atenção a região. “Se nada for feito, daqui a 4 ou 5 meses vem a temporada de chuva em outubro e depois ainda vem o verão. Isso aqui vai virar um caos. A gente precisa que alguém venha tirar tudo isso, é uma emergência”, explicou Jorge.
Somadas, as chuvas dos dias 15 de fevereiro e 20 de março deixaram 241 vítimas. Só na região conhecida como Morro da Oficina, no Alto da Serra, foram mais de 90 delas. Ainda há três pessoas desaparecidas. Dados Prefeitura apontam que a Defesa Civil já emitiu 9,7 mil laudos de vistorias técnicas em imóveis atingidos pelas catástrofes climáticas. Este número corresponde a 91% das 10,7 mil ocorrências registradas. A prefeitura informou ainda que a COMDEP, até o momento, retirou 240 mil toneladas de detritos das ruas de Petrópolis.
Neste domingo, a Paróquia Santo Antônio, no Alto da Serra, em todos os horários de missa, vai rezar na intenção das vítimas que morreram e para aquelas que sobreviveram. Não vai haver uma missa especial. Na Igreja Santo Antônio os horários da missa são 7h, 10h e 19h.