Menos de 50% das obras de recuperação, das tragédias climáticas de 2022, estão concluídas em Petrópolis

Uma das palavras que marcou o pós da tragédia do dia 15 de fevereiro de 2022 foi “reconstrução”. Petrópolis precisava voltar à normalidade, ou a um cenário próximo a este, o mais rápido possível. Com a iminência de novas chuvas, como se concretizou dias depois, em 20 de março, o Governo do Estado do Rio de Janeiro assumiu cinco grandes obras que ajudaram, neste primeiro ano, a devolver a mobilidade e um pouco da segurança em alguns locais. Mas todas as outras comunidades atingidas pelas chuvas continuam com o mesmo cenário. As moradias que resistiram vazias, ou que ficaram parcialmente destruídas, em muitos casos foram saqueadas e acabaram tomadas pela vegetação.

Dados de um levantamento feito pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) mostram que há pelo menos 100 locais que foram atingidos pelas chuvas e que nenhum órgão assumiu a responsabilidade pela reconstrução. De acordo com a promotora de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Zilda Januzzi, até o momento, um ano após a tragédia, apenas cinco obras grandes foram iniciadas. “Precisam dar tratamentos para mitigar os riscos, porque ainda existem riscos e independentemente do retorno das pessoas às suas residências, é preciso realizar as obras para gerar segurança no entorno. Nós temos cinco obras em fase avançada, mas pouco ainda foi feito durante esse um ano”, comentou.

Imagem no Morro da Oficina, no Alto da Serra, logo após a tragédia do dia 15 de fevereiro de 2022
Imagem do mesmo local no Morro da Oficina um ano após a tragédia

Dos locais que já começaram a receber intervenções, sofreram atrasos, devido às chuvas do fim do ano, e problemas burocráticos. A situação gera insegurança e preocupação àqueles que são vizinhos da tragédia.

A filha da Solange, moradora do Morro da Oficina, por exemplo, estava em casa no dia 15 de fevereiro de 2022 e ficou traumatizada com o que presenciou. “A minha filha não dorme, quando chove fica dizendo que vai morrer, que vamos ficar soterrados. E só consegui o aluguel social nesse mês, quase um ano depois”, disse emocionada.

As cinco grandes obras que estão em fase final, fazem parte do pacote de investimento do Governo do Estado, foram R$ 255 milhões, até agora, em obras de contenção. No Complexo da Rua Teresa estão sendo investidos mais de R$ 80 milhões. Também deve ser entregue as obras da Rua Pedro Ivo, que tiveram um investimento de quase R$ 12 milhões na recuperação da pista e contenção de encostas.

Também estão em fase final as obras na Rua Washington Luiz com um custo de mais de R$ 48 milhões. No local, o trabalho consiste na recuperação do muro de gabião e recomposição da pista. Já na Avenida Portugal, estão sendo investidos mais de R$ 10 milhões em drenagem e contenção de encostas. Há ainda as obras tão aguardadas de reforço estrutural do túnel extravasor, sob a Rua Francisco Scalli, no bairro Quissamã, cujo investimento é de R$ 74 milhões e, com entrega prevista para abril, as obras de contenção e drenagem na Rua Conde D’Eu e na Rua Olavo Bilac em Castelânea fecha este primeiro pacote. O investimento nessas intervenções ultrapassa os R$ 30 milhões, de acordo com o Governo do Estado.

Mas para aqueles que ainda não viram as obras começarem, todo dia é um novo desafio. Como Cristiane Gross, também moradora do Morro da Oficina, que perdeu nove familiares no dia 15 de fevereiro e permanece sem respostas.

“A gente está abandonado pelo poder público. Foram nove pessoas que perdi aqui, além dos meus amigos e vizinhos. Eu vou cobrar até que algo seja feito aqui na região, não importa o tempo que passar. Eles me devem isso”, concluiu.

De acordo com a Prefeitura de Petrópolis, das 129 obras que devem ser realizadas sob sua responsabilidade, 48 foram concluídas, 41 estão em andamento, e 40 ainda estão em fase de licitação. Dessas, 89 são de contenção e outras 20 relacionadas a equipamentos públicos.

Por Richard Stoltzenburg

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