Tragédia que atingiu Petrópolis em março de 2022 completa um ano nesta segunda-feira (20)

Larissa Martins

Nesta segunda-feira (20) completa um ano da segunda tragédia que atingiu Petrópolis no dia 20 de março de 2022. Naquela semana, havia completado 35 dias da primeira tragédia registrada no dia 15 de fevereiro, uma das maiores já registradas na região. A cidade já tão castigada, ainda estava em luto pelas 235 vidas perdidas brutalmente na data, quando uma nova chuva caiu e levou com ela mais sete vidas. Com isso, o número de mortos subiu então para 242, de acordo com dados da Polícia Civil.
Na Praça da Águia, no dia 15 de março, os familiares das vítimas da tragédia de fevereiro, estavam reunidos em um ato em memória delas. Cerca de 233 cruzes foram colocadas no chão, representando cada vida perdida. O que ninguém imaginaria é que uma nova tragédia aconteceria na cidade, cinco dias depois.

Jussara se emociona ao lembrar dos filhos durante a homenagem do dia 15 de março, na praça da Águia, em Petrópolis – Arquivo TVC

Quando a cidade alagou, as cruzes foram levadas pelo temporal. Pessoas que ficaram ilhadas registraram as imagens das cruzes boiando e depois sendo levadas pela correnteza, no centro da cidade.
De acordo com a Defesa Civil, foram registradas 95 ocorrências entre deslizamentos e inundações. Muitas pessoas que estavam ilhadas foram socorridas. Outras 149 pessoas foram acolhidas em pontos de apoio.

Homenagem ao Professor
Entre as vítimas fatais estava o artista e professor, Nelson Ricardo Ferreira da Costa, de 59 anos e a mãe dele, Heloisa Helena Caldeira da Costa, de 86 anos. Eles moravam em uma casa de três andares que desabou após um deslizamento de terra, na Rua Washington Luiz. A perda foi tanta que dias após a confirmação da morte, amigos e conhecidos se reuniram em frente ao Obelisco, no centro, para prestarem as últimas homenagens a ele e a mãe. Um holograma com a imagem de Nelson, da mãe, do cachorro e do companheiro dele que também morreu, foi projetado no monumento.
Nelson Costa era doutor em Artes Visuais pela UFRJ e era professor nos cursos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Publicidade e Propaganda e Design de Moda do campus Petrópolis da Universidade Estácio de Sá.

Durante a trajetória marcante do professor, ele fez muitos amigos. O artista visual, Cláudio Partes, é um deles e há mais de 15 anos mantinha uma relação próxima com Nelson. Ele conta que quando recebeu a notícia da morte do professor, não acreditou que fosse verdade. Segundo ele, depois de um ano, a sensação ainda é como se parte dele tivesse sido arrancada e deixado um vazio. “O Nelson era uma pessoa incrível, ele tinha amor por ensinar e sempre fazia de tudo para ajudar as pessoas. Temos momentos marcantes juntos, como a vez quando ele estava pintando uma obra e me chamou para ir até a casa dele ver. Quando cheguei lá, para mim era a obra mais perfeita que já tinha visto, mas ele era perfeccionista e ainda queria adicionar novos detalhes na obra antes de finalizá-la”, conta.

O artista plástico, Cláudio Partes, era amigo do professor Nelson Ricardo – Arquivo


A produtora cultural, Silvana Coelho, já trabalhou com Nelson e, segundo ela, o amor por lecionar e o olhar artístico dele sobre a vida, eram coisas que ela admirava. “Ele tinha um olhar diferenciado em tudo o que fazia. Quando acontecem tragédias e pessoas que amamos morrem, elas merecem todo reconhecimento que recebem. Acredito que ele está lá do céu aplaudindo o legado que deixou na terra”, disse.

Silvana Coelho destaca o profissionalismo de Nelson – Arquivo TVC

Prejuízos

O comércio na Avenida Washington Luiz, também foi atingido gerando prejuízos aos comerciantes. Em uma loja de ferramentas, o proprietário Pedro Cabral, perdeu parte do estoque, mas conseguiu ser reerguer com recursos próprios. “Um ano depois consegui me reerguer sem ajuda governamental. Tenho comprado os produtos aos poucos e com a ajuda dos clientes que têm comprado, consigo quitar as contas. A minha loja que foi atingida ficava em outra parte da Washington Luiz, mas eu me mudei após as chuvas para uma loja mais alta”, explica o comerciante.


Uma vidraçaria, na mesma rua, foi atingida nas duas chuvas e o proprietário perdeu tudo em ambas as tragédias. Nos vídeos feitos por funcionários é possível ver que a água chegou a mais de dois metros de altura e quase atingiu o teto da loja. O prejuízo foi de mais de R$30 mil. Mas um ano após o ocorrido, o proprietário Roberto montes, finalmente conseguiu se restabelecer. “O que aconteceu ninguém poderia imaginar. Quando começou a chover, pensei que seria uma chuva comum. Quando percebi minha loja já estava inundada, foi quando eu e meus funcionários subimos para o segundo andar da loja e vimos todos os produtos sendo levados água abaixo. No dia seguinte a situação foi ainda pior, a loja ficou cheia de lama, os bombeiros precisaram se abrigar nela para fugirem da chuva que ainda caía. Ficamos 15 dias limpando o estabelecimento. Não consegui ajuda emergencial, precisei me virar para reconstruir a loja. Agora os clientes têm vindo e isso tem contribuído para esse momento de recuperação”, conta emocionado.
Na loja de móveis da localidade todas as mercadorias foram levadas pela enxurrada. E só depois que a água baixou foi possível mensurar o tamanho do prejuízo. O empresário, Izaú Medina, conta que faltou empatia com as vítimas das tragédias por parte do governo municipal. “Perdi todos os móveis quando a água arrebentou a porta da loja. Coloquei a minha moto em uma mesa, que é minha ferramenta de trabalho, e orei para que Deus não a deixasse ser arrastada. Na hora eu só conseguia pensar em salvar minha vida, então subi para o segundo andar com outros funcionários. Quando a água abaixou, a loja estava vazia, exceto pela minha moto intacta no mesmo lugar que a deixei. As semanas seguintes foram as mais difíceis, ainda mais porque em momento algum os governantes municipais vieram aos estabelecimentos oferecer ajuda ou simplesmente perguntar se estávamos bem. Faltou empatia e preparação da parte deles”, conta.
Apesar de tudo, a loja está novamente de pé após passar por reformas. “Hoje em dia tudo passou, consegui me restabelecer e tenho vendido bastante. Agradeço a todos os clientes que buscaram e às pessoas me ajudaram e às pessoas que compraram móveis para doarem às vítimas, e deram preferência à minha loja”, conclui.

A loja do Izaú Medina um ano depois – Arquivo TVC

Fotos Arquivo TVC / Redes Sociais

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