Setor farmacêutico cresce 12,7% em 2024, mas reajuste autorizado gera dúvidas e impacto no bolso do consumidor

O setor farmacêutico brasileiro segue em expansão após movimentar cerca de R$ 220,9 bilhões em 2024, segundo dados do mercado. O crescimento em relação ao ano anterior representa uma alta de 12,7% e reforça a importância estratégica da área, uma das mais reguladas da economia nacional. Apesar da forte demanda por medicamentos, o setor ainda é marcado pela alta concentração de mercado e por barreiras significativas à concorrência.
Segundo Eduardo Amendola, economista e docente da Estácio, o segmento é moldado por fatores como o elevado custo de pesquisa e desenvolvimento, o rigor das exigências regulatórias e o sistema de patentes, que garante monopólios temporários para novos medicamentos. “Toda essa dinâmica do mercado limita a entrada de novos concorrentes e impacta diretamente o acesso da população a tratamentos mais acessíveis”, afirma.
Para equilibrar inovação e acesso, diferentes órgãos atuam na regulação do setor. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) avalia a segurança e eficácia dos produtos; o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) fiscaliza eventuais abusos de poder econômico; e a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) define os limites de reajuste de preços.
Em 2025, a Resolução CM-CMED 1/2025 estabeleceu tetos para reajustes de preços, conforme o nível de concorrência dos medicamentos.
“No nível 1 o teto vai até 5,06% para medicamentos com alta concorrência; no nível 2, até 3,83% para produtos com concorrência moderada; e no nível 3 o percentual é de até 2,60% para medicamentos com pouca ou nenhuma concorrência” comenta o especialista.
No entanto, consumidores têm relatado aumentos superiores aos anunciados oficialmente. Amêndola explica que o teto estabelecido pela CMED é aplicado ao preço máximo permitido, e não necessariamente ao valor cobrado ao consumidor. “Como farmácias têm liberdade para oferecer descontos e promoções ao longo do ano, a suspensão dessas ofertas pode fazer com que o preço final suba, criando a percepção de um reajuste maior do que o autorizado”.
Outros fatores também pesam na formação dos preços. A indústria farmacêutica nacional depende fortemente da importação de insumos, com cerca de 90% do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) vindo de países como Índia e China. A variação cambial e custos logísticos influenciam diretamente no preço de produção e distribuição, refletindo nos valores cobrados ao consumidor.
O impacto do reajuste pode ser sentido de forma gradual, à medida que os estoques antigos das farmácias são repostos com novos lotes. Em locais com menor concorrência entre drogarias, esse efeito tende a ser mais rápido. Para os consumidores, especialmente os que utilizam medicamentos de uso contínuo, o aumento pode representar um custo adicional relevante ao longo do ano.

Como economizar na compra de medicamentos
Diante do cenário de reajuste, o professor da Estácio recomenda algumas medidas para reduzir os impactos no orçamento familiar. “Pesquisar preços em diferentes farmácias, físicas e online, é uma das estratégias mais eficazes. Em muitos casos, é possível negociar descontos diretamente no balcão, especialmente para pagamentos à vista. A compra em maior quantidade também pode representar economia, especialmente para quem já tem prescrição regular de medicamentos contínuos”, explica.
Programas de fidelidade e descontos oferecidos por laboratórios também ajudam a reduzir os custos, assim como a substituição de medicamentos de marca por genéricos — que podem ser até 80% mais baratos, com a mesma eficácia comprovada. Outra alternativa importante é o Programa Farmácia Popular, do governo federal, que oferece medicamentos gratuitos ou com desconto para doenças como hipertensão, diabetes e asma.
Enquanto o setor avança em faturamento e sofisticação tecnológica, o desafio segue sendo equilibrar a inovação com políticas públicas e estratégias que garantam o acesso da população a medicamentos de qualidade e a preços justos.

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