Por lei, os RMO’s deveriam ser publicados em até dez dias úteis após final de cada mês
32% da frota de ônibus circulam irregularmente, segundo dados da própria CPTrans
atualizado 20/05/2025, às 13h31, para adicionar posicionamento da CPTrans
A Prefeitura de Petrópolis voltou a descumprir a legislação ao atrasar a publicação do Relatório Mensal de Operação (RMO) da Companhia Petropolitana de Trânsito e Transporte (CPTrans). O relatório referente ao mês de março foi divulgado apenas em maio. A Lei Municipal nº 8.978/2025 determina que o documento deve ser publicado até dez dias úteis após o fim de cada mês. O relatório de abril, que deveria estar disponível, também está em atraso. Além do atraso, um ofício enviado pela companhia aponta que 32% da frota de ônibus já ultrapassou o limite de uso estabelecido por lei, ou seja, estão irregulares. Mesmo diante da irregularidade, a companhia não apresentou nenhuma medida concreta para corrigir a falha.
“Seguimos vivendo uma verdadeira crise no transporte público em Petrópolis: são quebras constantes, linhas insuficientes e uma das tarifas mais caras do estado. É gravíssimo que mais de 30% da frota esteja circulando fora da validade — isso representa um risco direto à segurança da população. No último relatório, referente ao mês de março, foram registradas 336 falhas mecânicas. E, até agora, o relatório de abril segue com mais de 10 dias de atraso, o que compromete a fiscalização e impede que a população acompanhe com transparência o funcionamento do sistema”, afirmou a vereadora Júlia Casamasso, responsável pela lei que criou os relatórios.
Mais de 100 veículos irregulares
Existe uma determinação da CPTrans que ônibus convencionais só podem operar por até 11 anos após o ano de fabricação; no caso de micro-ônibus, o limite é de oito anos. Segundo um ofício da CPTrans, enviado no dia 20 de março de 2025 à vereadora Júlia Casamasso, 103 ônibus estão com a idade limite vencida. De acordo com os relatórios, a frota atual possui 318 ônibus, ou seja, 32,3% estão irregulares. Veja os dados por empresa:
Cidade Real: 48 veículos vencidos (40 ônibus e 8 micro-ônibus)
Turp Transportes: 30 veículos vencidos (todos ônibus)
Cidade das Hortênsias: 25 veículos vencidos (20 ônibus e 5 micro-ônibus)
“É urgente repensarmos o modelo de concessões vigente. Não dá mais para continuar entregando o transporte público de Petrópolis nas mãos de empresas privadas que prestam um serviço precário e que só pensam no lucro. Precisamos discutir com seriedade a municipalização do transporte, porque transporte não é mercadoria — é um direito”, completou Casamasso.
Sobre o RMO
Criado pela Lei nº 8.978/2025, o Relatório Mensal de Operação obriga a CPTrans a publicar, em seu site oficial, informações detalhadas sobre a fiscalização do transporte público coletivo. O relatório deve incluir: Quantidade de veículos com problemas mecânicos, técnicos ou avarias; descrição e data dos problemas identificados; e índice de viagens não realizadas, discriminado por linha e com justificativas.
Falhas mecânicas aumentam em março
O RMO de março revela que 1.632 viagens não foram realizadas na cidade. Desses cancelamentos, 336 foram causados por falhas mecânicas, ou seja, problemas nos ônibus que impediram a realização das viagens. Quando comparado ao mês de fevereiro, houve um aumento de 53 falhas mecânicas.
A Turp Transportes lidera o número de falhas mecânicas, das 336 ocorrências, a empresa registrou 263 delas. Seguida por Cidade das Hortênsias com 48 falhas, e Cidade Real, com 25. Ao todo, 220 veículos apresentaram falha mecânica em operação durante o mês. Esses números mostram que, em média, ocorre uma quebra a cada 8.678 quilômetros percorridos em todo o sistema.
A Turp foi a empresa com o maior número de viagens não realizadas: 1.266 cancelamentos, o que representa 3,23% das viagens programadas. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário em Petrópolis (Setranspetro), a maioria das falhas foram provenientes de interferências no trânsito e obstruções viárias. Já a Cidade das Hortênsias teve 234 viagens não realizadas, e a Cidade Real, 133.
Situação das empresas
Confira um resumo do desempenho de cada empresa em março:
Cidade Real: 42.934 viagens programadas / 133 não realizadas / 25 por falha mecânica.
Cidade das Hortênsias: 27.975 viagens programadas / 234 não realizadas / 48 por falha mecânica.
Turp: 39.144 viagens programadas / 1.266 não realizadas / 263 por falha mecânica.
O que diz o Setranspetro?
Embora não tenha respondido sobre a irregularidade dos 103 coletivos, em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário em Petrópolis (Setranspetro) alegou que, das mais de 110 mil viagens programadas em março, 1.632 não foram realizadas — o equivalente a 1,48%. Segundo o sindicato, a maior parte dos cancelamentos (1.003) foi causada por interferências externas, como trânsito intenso, obras, alagamentos, acidentes e quedas de árvores.
“O Setranspetro destaca que todas as empresas possuem linhas extensas. A Turp Transporte, por exemplo, com a linha 700 – Terminal Itaipava, percorre por 19,9 quilômetros em uma única partida, totalizando 39,8 quilômetros, se considerada uma viagem completa, de ida e volta. Com isso, a possibilidade de atrasos e até perdas de viagens na operação são inevitáveis, devido aos inúmeros engarrafamentos nas áreas de atendimento, como nas regiões do Retiro, Corrêas, Bonsucesso e vários pontos de Itaipava, fato este constatado diariamente por qualquer morador de Petrópolis”, afirmou.
O Setranspetro ainda citou investimentos das empresas operadoras. Segundo o sindicato, entre 2019 e 2024, as empresas Cidade Real, Cidade das Hortênsias e Turp Transporte compraram 134 ônibus novos, com investimento de R$ 82.124.177,97.
O que diz a CPTrans?
Procurada, a CPTrans informou em nota que tem acompanhado de forma permanente a operação das concessionárias do transporte público em Petrópolis, com especial atenção aos casos pontuais de viagens não realizadas, como os verificados no mês de fevereiro.
“A CPTrans está ainda em processo de aprimoramento de seus instrumentos de fiscalização e acompanhamento, incluindo a revisão do RMO (Relatório Mensal de Operações) e das metodologias atualmente aplicadas. Neste contexto, estamos estudando a incorporação de indicadores recomendados por órgãos como a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), que serão estrategicamente utilizados para avaliar com mais precisão o desempenho das empresas operadoras”, diz um trecho da nota.
“Nosso compromisso é com a transparência, a melhoria contínua do sistema e o bem-estar dos usuários. A CPTrans seguirá atuando com responsabilidade e dedicação para assegurar um transporte público digno e eficiente para todos os petropolitanos”, completou.