Um prédio, no Quitandinha, que abriga famílias da tragédia, em Petrópolis, está em situação precária. O prédio de três andares, na Rua Pernambuco, tem 14 apartamentos. No local, vivem famílias, por meio do Aluguel Social, que ficaram desabrigadas por conta das fortes chuvas que atingiram a cidade no início deste ano. E o que deveria ser um ambiente de acolhimento, após tanto trauma e perdas, se tornou um verdadeiro pesadelo. As condições dos apartamentos são inacreditáveis.

Os moradores são obrigados a viver em condições deploráveis devido aos problemas estruturais existentes no prédio. Há infiltração por todo o lado, o mofo tomou conta dos cômodos e móveis, o telhado presenta problemas, e o esgoto mina pelos ralos dos corredores, colocando em risco a saúde dos moradores, principalmente das crianças. Mesmo diante de tanto descaso, as pessoas que vivem no local tentam resolver alguns dos problemas por meios próprios, já que não receberem apoio do proprietário do prédio nem da Prefeitura de Petrópolis.

Francisco Guimarães tem 72 anos, e vive no prédio com a mulher. Ele conta que tem sonho de encontrar outro imóvel através do Aluguel Social. “Se eu pudesse sair daqui agora eu saia. Esse lugar me faz mal. Como pode um apartamento ter só uma janela? Eu me sinto preso aqui dentro. O cheio é insuportável”, disse Francisco.
Nesta sexta-feira (7), após a situação repercutir na mídia, o proprietário do imóvel foi até o local para desentupir o ralo. O problema foi resolvido temporariamente, tendo em vista que os moradores precisam lavar os corredores diariamente na tentativa de atenuar o mal cheiro do esgoto. Já o cheiro do mofo tomou conta do lugar e parece não ter solução. Como consequência os moradores sentem diariamente fortes dores de cabeça, têm crises alergias e problemas respiratórios.
Dez famílias vivem no local, um total de 34 pessoas, incluindo crianças, idosos e uma mulher grávida. Eles temem que o risco no local seja tão grande quanto nas áreas de onde foram retirados em função das chuvas do início do ano. O aluguel é de R$ 1000 por mês, pagos pelo governo através do Aluguel Social.
A situação é tão grave que alguns moradores desenvolveram depressão e crise de pânico. O imóvel no Quitandinha foi encontrado pela própria prefeitura, por meio de mutirões que foram realizados após a tragédia, na tentativa de realocar os desalojados que estavam nos abrigos municipais. Dos 14 apartamentos, 10 estão ocupados. Os outros quatro que estão atualmente vazios foram deixados por famílias que conseguiram um lugar melhor para morar com o aluguel social.
“Quando começa a dar pancadas de chuva, eu morro de medo. A gente tá pedindo socorro, a quem puder nos socorrer. Eu não me sinto segura em lugar algum”, disse a dona de casa Rosilene Gomes. A vizinha de Rosilene, Ana Carolina Guimarães, conta precisou sair de um local interditado para ir para outro lugar tão perigoso quanto o que vivia. “A gente deixa de morrer na barreira para morrer embaixo de escombros, porque esse prédio está a ponto de desabar. Isso é desumano, deixar a gente aqui pra morrer”, disse Ana Carolina.
Quando chove, a água escorre pelas paredes, como uma cachoeira, inundando os apartamentos. A água também sai pelos interruptores e tomadas. Este é um outro problema, já que todo o sistema de energia elétrica é fraco. Quando mais de um chuveiro do prédio é ligado ao mesmo tempo, a energia cai. “Pior é que a gente não acha outro lugar pra morar. Não é fácil achar quem queria alugar pelo Aluguel Social”, disse Rosilene.
Nesta semana, os vereadores Fred Procópio, Hingo Hammes e Domingos Protetor estiveram no local realizando uma vistoria. A Câmara Municipal informou que vai cobrar da prefeitura o laudo da vistoria feita pela Defesa Civil no local, além de uma nova vistoria conjunta da Defesa Civil e Assistência Social. Também vai solicitar a documentação sobre a construção do prédio para verificar se houve acompanhamento técnico da obra, a verificação do Habite-se e a cobrança de providências à Secretaria de Assistência Social. Os vereadores também informaram que vão promover reunião com moradores, proprietário do imóvel e representantes da prefeitura para agilizar solução.
Em nota a Prefeitura de Petrópolis informou que, todas as famílias beneficiadas pelo aluguel social podem pedir distrato do contrato – já foram realizados, inclusive, 252 distratos. O município disse ainda, que garante o aluguel social em um novo local para todas as famílias que pedirem o distrato no local onde estão instaladas. Além disso, o proprietário foi acionado, e cabe a ele proceder com os reparos necessários no imóvel.
Ainda de acordo com a Prefeitura, o município realizou o processo de revalidação do aluguel social entre maio e junho, e há um setor de aluguel social da Secretaria de Assistência Social (Rua Dom Pedro, 199, Centro), que está à disposição da população para tirar dúvidas sobre o benefício e receber reclamações sobre problemas nos imóveis. No setor, também são tratados os distratos (dissolução do contrato), sempre que o setor é procurado pelos beneficiários ou pelos proprietários.
A Secretaria de Assistência Social lembrou também que cada família beneficiária do aluguel social visitou o imóvel antes de assinar o contrato de aluguel. A questão do habite-se é um desafio que a atual gestão enfrenta após cinco anos de completa negligência sobre o assunto. Até mesmo condomínios de classe média e de luxo, infelizmente, não possuem o documento.
No caso do prédio da Floriano Peixoto, o projeto para as obras de reparo hidráulico e elétrico está sendo finalizado.
Por Raphaela Cordeiro