Tradição significa um conjunto simbólico de costumes, lendas, ritos e conhecimentos ancestrais que vão passando de geração a geração, como uma herança. Cultivar essas raízes forma uma conexão entre o presente e o passado, que ajuda a moldar os costumes e estilos de um grupo social. Manter viva a história de um povo depende de muitos fatores, um deles é a preservação da memória e dos feitos dos mesmos, para que isso aconteça é necessário ter um guardião dessas recordações, e é assim que a Festa do Colono Alemão, ou, mais conhecido como Bauernfest, age na cidade de Petrópolis.
Tradição
O festival que começou de forma pequena no início dos anos 80, especificamente em 1983, no dia 29 de junho, data que marca a chegada dos colonos na “Cidade Imperial”, passou a ser um dos maiores festivais da cultura germânica no Brasil. No princípio, o evento era chamado de festa do colono e depois passou a se chamar Bauernfest em homenagem ao historiador Gustavo Ernesto Bauer e também à palavra Bauer, que no alemão significa colono ou camponês. O local escolhido para a realização da festa foi o palácio de Cristal, pela ligação dos imigrantes com o local, isso é o que conta a história da fundação da festa retratada pelo o Clube 29 de Junho.
Marcio Haubrich, representante do Clube 29 de Junho, relembrou as primeiras edições da Bauer. “A festa teve início há 36 anos. O evento na verdade começou como a Festa do Colono, no começo eram só poucas barraquinhas que pertenciam às famílias dos descendentes dos colonos. A Bauer começou a ter uma promoção enorme e hoje, estamos aqui, realizando a 36ª edição, em comemoração aos 180 anos de imigração dos colonos aqui em Petrópolis”, contou.
Este ano, a 36ª edição da Bauernfest começa nesta sexta-feira (28) e segue até 13 de julho, a festividade tem o intuito de valorizar a cultura e gastronomia germânica, chamando tanto o público local quanto o regional para participar das atrações proporcionadas fazendo com que a economia se movimente.
A festa do colono carrega histórias e memórias que perpetuam até nos dias atuais como os tradicionais grupos folclóricos e os desfiles que foram estabelecidos em 1990 através do Clube 29 de Junho, os mesmos continuam como uma das mais marcantes atrações da festa.
Contraste
Apesar da cidade valorizar bastante as raízes alemãs, outras histórias são apagadas completamente da linha do tempo e da memória da pólis, que desde o nascimento lá em 1843, trabalhou para esconder todas as marcas e contribuição do povo preto na criação e pavimentação da região. Sendo assim, de forma mascarada a Cidade de Pedro foi moldado o passado conforme os interesses da coroa e da república.
Esse processo contribuiu para o apagamento e invisibilidade dos negros, a doutora em Educação, Renata Aquino, e o Professor da Universidade Federal do Ceará, Henrique Cunha Junior, afirmam no projeto “Cidades Negras – Petrópolis Imperial/Revista Ambivalências”, que Petrópolis é um exemplo da maquete para testes de aplicação da teoria do embranquecimento, exaltando apenas uma cultura “predominante”.
Esse recorte é ecoado nas vozes dos artistas que criam nessa Petrópolis criada, onde gritam e denunciam o apagamento. “Parece que até o tempo tá voltando! Para a era do colono, colombo, calombo espalhados pelo o corpo de tanto levar chibata, na corrida do ouro, onde corpos tinham dono, assassinos em massa ainda são estátuas na praça. Acha que é chato ouvir isso né, correntes, troncos, que papo ultrapassado já se passaram séculos. Só que o Palácio de Cristal era um Quilombo e a Bauern é a festa em cima de um cemitério”, trecho de uma poesia declamada pelo artista petropolitano, Topre, na Flipetropolis em maio de 2024.