Quatro meses após o Governo Federal anunciar o envio de recursos para ações emergenciais em Petrópolis, o Cemitério Municipal do Centro, que sofreu deslizamento de terra durante as chuvas de março de 2024, segue em total abandono. Os túmulos continuam danificados, cobertos de forma improvisada, e não há qualquer sinal de obras no local.
A equipe do Correio Petropolitano esteve no cemitério nesta terça-feira (15) e constatou que a área atingida permanece isolada e os entulhos cobertos por lonas, exatamente como após as chuvas dos dias 22 e 23 de março de 2024. O local, que abriga cerca de 8 mil sepulturas e 2,5 mil gavetas, é o maior da cidade, e foi um dos mais afetados pelos temporais.
Dor e indignação
Para os familiares de pessoas sepultadas no cemitério, a dor da perda se mistura à indignação com o estado de abandono. A dona de casa Eunice Azevedo, que enterrou o filho no local no início deste ano, lamenta a precariedade. “Um abandono total. Eu tive que juntar dinheiro para fazer a pedra do túmulo porque não queria ver cachorro carregando osso, como já vi aqui. Só a pedra custou R$ 700. E tem muita gente que não tem condições de fazer isso”, contou.
Ela afirma que, embora a entrada do cemitério tenha passado por pequenas melhorias, a área atingida segue esquecida. “A gente paga imposto direitinho. É o mínimo que o povo espera: dignidade para enterrar seus entes”, completou.
Plano de reconstrução ainda não saiu do papel
Em março deste ano, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) autorizou dois repasses para Petrópolis: um de R$ 951 mil, destinado à ajuda humanitária, e outro de R$ 756.285,30, para ações gerais de restabelecimento. Nenhum desses valores, no entanto, é exclusivo para a recuperação do cemitério.
De acordo com o próprio ministro Waldez Góes, em pronunciamento à época da liberação dos recursos, a reconstrução do Cemitério Municipal faria parte de um terceiro plano, ainda em fase de aprovação. “Estamos aprovando dois planos para Petrópolis, um de ajuda humanitária no valor de R$ 951 mil, e outro de restabelecimento, no valor de R$ 700 mil. Já tem um terceiro plano para a reconstrução do cemitério, e também outros planos de reconstrução que, na soma, devem chegar em torno de R$ 10 milhões de reais para Petrópolis”, afirmou o ministro.
Até o momento, esse plano específico para o cemitério não foi formalmente publicado no Diário Oficial da União, nem houve anúncio de liberação dos recursos.
Contrato de R$ 650 mil
Em paralelo aos repasses federais, a Prefeitura contratou em junho de 2024 a empresa AMB Memorial de Cinzas LTDA, por R$ 650 mil, para remover os restos mortais das gavetas afetadas. O contrato previa a exumação, armazenamento temporário, identificação dos corpos com apoio técnico e posterior contato com os familiares. A empresa também deveria elaborar um relatório técnico a ser encaminhado ao Ministério Público do Rio de Janeiro. No entanto, o contrato não previa qualquer tipo de restauração dos jazigos ou outras medidas semelhantes na área colapsada.
Questionamento à Prefeitura
Diante da ausência de intervenções, a redação do Correio Petropolitano enviou questionamento à Prefeitura de Petrópolis. O pedido solicita esclarecimentos sobre o uso dos recursos federais: se há alguma previsão para o início das obras de recuperação no Cemitério Municipal; se há previsão de abertura de uma licitação para as obras; e se os R$ 756.285,30 já foram utilizados, se sim, em quais ações.
Até o fechamento desta edição, não houve retorno da Prefeitura.