Gratidão, foi o sentimento que regeu o reencontro de Gabriel Pessanha, turista que caiu em uma fenda na montanha Pedra do Sino, em Teresópolis, o pico mais alto da Serra dos Órgãos, com os bombeiros que realizaram o resgate, considerado por eles “cinematográfico” no dia 16 de julho. Na ocasião, o turista relembrou os momentos de desespero que passou preso em meio às pedras. “Bateu um desespero, imaginei que nunca iria sair dali com vida”, disse.
A jornada de Gabriel até o momento relatado, começou bem. Ele e dois amigos decidiram ir até o cume da Pedra do Sino, que tem 2.275 metros de altura, para contemplar a paisagem, que permite uma visão da pedra Dedo de Deus. A subida foi tranquila, todos bem equipados e com roupas adequadas, o problema foi na descida, quando Pessanha decidiu ir por um caminho contrário dos amigos, que ocasionou a queda na fenda em que ficou preso entre duas rochas.
“No retorno tive medo de voltar pelo caminho que era o certo, o qual nós subimos, então optei por um caminho que achei mais fácil, porém não o certo, acabei escorregando, bati a cabeça, desmaiei e acordei dentro de uma pedra. E daí bateu um desespero, imaginei que nunca sairia de lá com vida, tentei manter a calma e acreditar em Deus”, relatou.
Cenário
O local da queda do turista era de alta complexidade, já que foi em uma fenda, com dificuldades de acesso e também por conta do frio que assola a região neste período. Segundo um dos socorristas, que integra a Equipe de Salvamento do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, Gabriel caiu em uma espécie de ampulheta, onde ele não conseguiria sair sozinho. “A complexidade é estar num lugar totalmente restrito, confinado, uma espécie de ampulheta onde ele conseguiu passar por uma parte mais fechada, ali ele não conseguia nem subir e nem descer, para efetuar o resgate precisamos quebrar essa parte da ampulheta com as ferramentas necessárias para poder realizar a liberação dele”, explicou o Primeiro Sargento da 16ºGBM, Ramon Roque.
O salvamento efetuado pelos militares do 16ºGrupamento de Bombeiro Militar (16ºGBM-Teresópolis), contou com apoio do Grupamento de Operações Aéreas (GOA). Todos atuaram de forma conjunta, utilizando métodos exclusivos para acessar a vítima, que recebeu os primeiros-socorros ainda no alto da Pedra do Sino e foi conduzido ao hospital em Teresópolis.
Diante do cenário encontrado, os bombeiros se deparam com uma cena de cinema. “Chegar no local, ver aquele tipo de cena e mudar totalmente a configuração do socorro, foi um susto. Mas a comunicação funcionou, foi eficaz para que chegasse o recurso”, disse o Primeiro Sargento.
Dever cumprido
Outra memória viva entre os comuns envolvidos no resgate é a sensação de dever cumprido e o alívio de ver a vítima fora do perigo. “Foi realmente emocionante. Quando vimos ele fora da pedra, deu aquela sensação de dever cumprido”, ressalta o bombeiro que também atuou no resgate.
Valor a vida
Gabriel nasceu de novo, e esse fato o fez olhar para a vida com uma nova perspectiva, no momento em que estava preso lembrou do caso de Juliana Marins, a turista brasileira, de 26 anos, que caiu em um penhasco no monte Rinjani, montanha mais alta da Indonésia. Juliana ficou à espera de socorro por cerca de três a quatro dias, e quando foi encontrada já estava morta, o caso que comoveu o Brasil.
Nesse quesito, foi ressaltado pela vítima da Pedra do Sino, a importância do trabalho dos bombeiros. “Na hora do desespero, Deus mandou os anjos que são os bombeiros me encontrarem, estava muito frio, fui recebendo manta térmica, me hidrataram e fizeram o possível para me acalmar no momento, me afirmando que eu sairia com vida. Quando estava preso, lembrei de Juliana. Quando o socorro chegou, vi a importância dos bombeiros”, contou.
Os casos de Juliana e Gabriel são semelhantes, porém com desfechos diferentes, os dois amantes da natureza, seguiram o desejo de contemplar uma vista inapagável da memória, superando os limites de si mesmos. Olhando para a própria história Pessanha, reafirma que viveu um milagre. “Não há outra explicação, vivi um milagre, onde percebi que a vida é cheia de ensinamentos”, falou.
Temporada de montanhismo
Segundo a rede de inteligência do mercado de turismo (RIMT) do Ministério do Turismo, houve uma procura maior pelos destinos de ecoturismo durante a pandemia, por conta de um interesse maior da população em se conectar com a natureza, por conta do benefício que seria o equilíbrio, foco e bem-estar emocional.
Em maio de 2025 foi aberta a temporada de montanhismo em Teresópolis, que segue até setembro. O município possui muitos atrativos naturais, incluindo as trilhas desafiadoras dos três grandes parques de conservação ambiental: o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso), o Parque Estadual dos Três Picos (PETP) e o Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis.
As trilhas são excelentes para a saúde, porém requerem cuidados específicos para os adeptos ao esporte. É recomendado que os turistas e visitantes tenham conhecimento sobre a trilha, seguindo as orientações para seguir os caminhos conhecidos. Outro ponto é buscar informações prévias sobre o clima na região, porque pode ser um fator que impeça o acesso rápido da equipe de resgate. Além disso, é destaca-se a importância de ir em grupo e avisar sempre familiares e amigos sobre o trajeto, dando uma noção de quanto tempo leva a subida e volta. Também é necessário utilizar roupas e equipamentos de segurança específicos para cada tipo de trilha.