A Secretaria de Meio Ambiente de Petrópolis autorizou o corte de 111 árvores — sendo 93 nativas da Mata Atlântica — em um terreno localizado na Estrada União Indústria, em Itaipava, ao lado do supermercado Pão de Açúcar. Apesar da legalidade da medida, a autorização gerou preocupação entre ambientalistas e moradores da região, que temem impactos ambientais e urbanos.
A autorização ambiental, emitida no dia 7 de julho de 2025, foi concedida à empresa Segóvia Empreendimentos e Incorporação Ltda., com validade até julho de 2026. O documento permite o corte de 93 árvores nativas e três exóticas, totalizando 111, conforme o processo administrativo nº 7916/2025 e laudo técnico nº 39983/2022.
Para Carlos Eduardo Pereira, presidente da associação NovAmosanta, a decisão ignora o contexto urbano e ambiental da área. “É uma região já bastante desarborizada. Muita gente chama Itaipava de ‘deserto’ porque é impossível caminhar à tarde, de tanto calor. Não se pode autorizar um corte integral como esse”, afirmou.
Carlos Eduardo explica que a preocupação vai além do impacto visual ou do desconforto térmico. “Estamos falando de consequências graves para o meio ambiente, como a perda de habitat de aves, redução da produção de água e da captura de carbono”.
Outro ponto destacado pela NovAmosanta é a ausência de consulta pública antes da decisão. Segundo o presidente da entidade, a Prefeitura deveria ter promovido uma audiência com a população. “A cidade precisa crescer, sim, mas com responsabilidade. O crescimento não pode acontecer a qualquer custo”, declarou.
Impactos no trânsito
Além da questão ambiental, há receio sobre os impactos no trânsito. O local fica entre dois supermercados e em frente a três escolas, o que já gera grande movimentação nos horários de entrada e saída. “A chance de formarmos um gargalo ali é enorme. A Prefeitura tem um estudo da COPPE que aponta essa área como um dos principais pontos de congestionamento de Itaipava”, alertou Carlos.
Compensação ambiental
Sobre as contrapartidas ambientais, Carlos Eduardo disse que a compensação prevista ainda é incerta. Segundo ele, serão plantadas cerca de 500 árvores como compensação ambiental, no entanto, o local e o prazo de replantio ainda é incerto. “É uma compensação futura, que precisa ser acompanhada de perto. Estarei indo na Secretaria de Meio Ambiente questionar o local onde serão plantadas as mudas”, completou.
Carlos ainda informou que solicitou à Prefeitura que as mudas sejam plantadas ao longo do trecho da Estrada União e Indústria, que se prolonga por Itaipava. “Por possuir pouquíssimas árvores. Visando sua humanização e acompanhamento da sociedade civil”, disse.
O que diz a Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Petrópolis afirmou que a autorização para a remoção das árvores seguiu todos os trâmites legais, com pareceres favoráveis do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e dos técnicos da própria Secretaria de Meio Ambiente.
Segundo o município, foram autorizadas 96 supressões, número que inclui galhos grandes (fustes) e não corresponde, necessariamente, a 96 árvores distintas. A área, de acordo com o parecer técnico, não apresenta características de fragmento florestal, sendo classificada como um grupamento arbóreo isolado em uma região amplamente alterada pela ação humana.
Como compensação ambiental, o responsável pelo empreendimento se comprometeu a plantar 521 mudas de espécies nativas da Mata Atlântica — número cinco vezes superior à vegetação a ser suprimida. A Prefeitura reforçou que todo o processo foi conduzido com base em critérios técnicos e dentro da legalidade, respeitando a legislação ambiental e o zoneamento urbano da cidade.
Base legal
O corte autorizado está embasado na legislação ambiental vigente, incluindo a Lei Complementar nº 140/2011, a Resolução CONAMA nº 411/2009, a Lei Municipal nº 6.495/2007 e o Decreto Estadual nº 42.159/2009.