A Casa MinC, em parceria com a Casa do Cordel, sediada no sobrado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), recebeu nesta sexta-feira (01) a mesa Instrumento de Letramento para a Educação e a Cultura: a Literatura de Cordel. O debate integrou a programação especial do Ministério da Cultura na 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Durante a atividade, mediada por Fernando Assunpção, os convidados discutiram o papel histórico e contemporâneo da literatura de cordel como instrumento de letramento, formação de leitores e preservação da memória popular brasileira. Também foram destacadas as possibilidades de inserção do cordel em políticas públicas de cultura e educação, fortalecendo bibliotecas comunitárias, clubes de leitura e iniciativas de criação literária em diferentes regiões do país.
Para Jéferson Assumção, diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secretaria de Formação Artística e Cultural, Livro e Leitura (Sefli) do MinC, a literatura de cordel ocupa um papel central na identidade cultural brasileira e deve ser reconhecida como um patrimônio que precisa de apoio para crescer.
“O cordel tem um campo enorme para se expandir e ganhar ainda mais espaço na literatura brasileira. Ele é, há muito tempo, uma fonte de nutrição para a nossa cultura, pela força estética, pela oralidade e pelo vínculo com as tradições populares. É fundamental aproveitar este momento de fortalecimento das políticas públicas para garantir que essa literatura continue crescendo e alcançando novos públicos”, enfatizou.
Ele também afirmou que já houve compras de cordel no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) Literário, promovido pelo MinC e pelo Ministério da Educação (MEC). “É uma construção importantíssima. O Ministério da Educação compra 52% dos livros feitos no Brasil. Isso significa 40% do faturamento das editoras no Brasil”, informou Jéferson.
A autora e cordelista, Lu Vieira, destacou a importância do tema apresentado na Casa MinC. “A gente precisa de mesas como essa, que conversam sobre a importância do cordel para letrar uma sociedade. Porque o cordel é muito maior do que todas as temáticas que a gente pensa. Ele também fala do folclore, ele também fala da oralidade”.
Ela explicou ainda a diferença entre letramento e alfabetização. “No Brasil, esse conceito chega com a Delia Lene, ela separa o que é alfabetização e o que é letramento. Então, você é alfabetizado, você consegue decodificar os códigos, você consegue fazer leitura. E, quando você é letrado, você consegue aplicar esse conhecimento na sua vida social”.
Edmilson Santini, cordelista e escritor, declamou diversos cordéis em sua participação na mesa. Ele ainda expressou o desejo de que o gênero literário seja o tema homenageado da próxima Flip, por causa da importância para a cultura popular brasileira.
“Sou totalmente favorável à subvenção pública da literatura, porque o livro deve ser tratado como na França: como uma exceção cultural. Ele não é um produto como qualquer outro. A exceção cultural tem uma dimensão cidadã e estética que precisa ser valorizada. E o cordel, com sua história e potência, é um exemplo vivo de como a literatura popular pode formar leitores e preservar a memória do nosso povo”, completou o diretor da Sefli.
Literatura de cordel
Reconhecida em 2018 como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a literatura de cordel é uma manifestação cultural tradicional, principalmente do Nordeste brasileiro, caracterizada por narrativas rimadas, impressas em folhetos e, muitas vezes, acompanhadas de xilogravuras nas capas.
Com forte presença na oralidade e na cultura popular, o cordel aborda temas variados – do cotidiano à religiosidade, passando por questões sociais e históricas – e desempenha papel fundamental na formação de leitores, na preservação da memória e na democratização do acesso à literatura.
Casa do Cordel
Criada pelo Iphan, a Casa do Cordel é um espaço dedicado à valorização e difusão da literatura de cordel dentro da programação da FLIP. Instalada em um sobrado histórico no Centro de Paraty, a Casa oferece oficinas, rodas de conversa, cortejos, lançamentos de livros e apresentações de cordelistas de diferentes regiões do país, promovendo encontros entre mestres da cultura popular, novos escritores e o público da festa literária.
Além de fortalecer a presença do cordel na Flip, o espaço contribui para reconhecer a importância dessa manifestação como patrimônio cultural brasileiro, aproximando visitantes e moradores das tradições que marcam a identidade cultural do país.
Casas Parceiras
O secretário Fabiano Piúba participou da mesa na Casa Acaso em um debate com o público sobre as Páginas que nasceram para serem lidas: políticas públicas em torno do livro e da leitura. Durante o evento, o gestor esteve na companhia da represente do Fundo de Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Sylvia Toledo e com Cristiane Mateus que fez a mediação do momento.
“O plano é um instrumento muito importante. Mas o que estabelece política de Estado é a sociedade. Esse novo plano vai ser um instrumento, uma ferramenta importante para os dois ministérios, o da educação e o da cultura, mas ele vai dar um mapa de navegação para os próximos dez anos, mas é, sobretudo, um instrumento político e social para a sociedade brasileira cobrar do governo, sobretudo, a educação e e da cultura o cumprimento dessas metas”, frisou Piúba ao citar a consulta pública sobre o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), aberta até o próximo dia 8.
Já Sylvia afirmou que o marco regulatório é fundamental porque ele estabelece justamente as metas que podem ser acompanhadas pela sociedade e prazos para o cumprimento dessas metas. “A semelhança do que nós temos no Plano Nacional de Educação e no Plano Nacional também de Cultura. E eu gosto muito de um texto do Antônio Cândido que é bastante conhecido em que ele defende o direito à literatura, e invoca o direito à literatura como corolário da dignidade da pessoa humana”, detalha.
Às 17 horas, Piúba e o diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secretaria de Formação Artística e Cultural, Jéferson Assumção, participaram da mesa Políticas Públicas para o livro e a expectativa pelo novo PNLL, na Casa PublishNews. O momento também contou com a presença da integrante do Conselho Técnico Regional do SNEL, Raquel de Menezes, e com a mediação do editor-chefe do PublishNews, Guilherme Sobota.
“O livro tem que ter um lugar de destaque do imaginário coletivo, daí a necessidade de termos veículos falando sobre leitura, sobre literatura. E esse é um dos princípios do Plano Nacional do Livro e Leitura, o de ressaltar a importância desse debate na sociedade. O novo PNLL precisa contemplar questões que têm a ver com as grandes mudanças tecnológicas, as transformações enormes que o sistema literário passa em função dessas mudanças tecnológica, a questão do digital, o enfrentamento à fake News, à desinformação”, pontuou Jéferson.
“Importante pensar na formação de leitor para criança, mas eu acho que tem muito adulto aí que a gente precisa correr atrás para ajudar a fomentar que ele seja um leitor. Olhar melhor para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), por exemplo”, completou Raquel.