Recentemente, as prefeituras de Petrópolis e Teresópolis lançaram suas próprias loterias, assunto já abordado nesta coluna. A medida, que busca arrecadar recursos do público sob a promessa de “dinheiro fácil”, é mais uma narrativa que acaba prejudicando a população financeiramente. Mas, desta vez, o debate vai além. A reflexão de hoje é sobre a responsabilidade das empresas de comunicação e dos grandes veículos que, embora apontem as consequências e os riscos das apostas , incluindo vícios e prejuízos sociais , parecem não ter interesse real em que essa era termine.
Loterias, bets, caça-níqueis: mudam os nomes, mas o objetivo é o mesmo: arrecadar às custas de uma população que, em sua maioria, tem menor poder aquisitivo e vê nas apostas uma suposta oportunidade de enriquecimento rápido.
A “chuva” de comerciais ligados às bets é constante em praticamente todos os veículos de comunicação, e não se restringe a uma empresa específica. Basta ligar a TV ou acessar qualquer serviço de streaming. Hoje, é difícil encontrar um programa esportivo na grande mídia que não seja patrocinado por alguma casa de apostas. E o discurso sobre os malefícios? Parece se perder quando o dinheiro da publicidade entra, enquanto as consequências para o público ficam em segundo plano.
A situação se agravou em junho deste ano, quando o Senado rejeitou o relatório da CPI das Bets. O texto, derrubado por 4 votos a 3, previa o indiciamento de 16 pessoas e a criação de 20 projetos de lei para conter os danos das apostas virtuais. Enquanto parlamentares miravam em influenciadores digitais e redes sociais, a grande mídia continuava lucrando com os comerciais.
E há um detalhe que não pode ser ignorado: qualquer “bet” é, por definição, uma aposta online. Então, por que as empresas de comunicação não foram alvo de investigação ou sequer questionadas sobre a veiculação desse tipo de propaganda? E os jogadores e ex-jogadores de futebol, apresentadores, narradores e outros nomes que emprestam sua imagem às casas de apostas? Será que a TV aberta e os canais por assinatura já não exercem mais influência? É claro que exercem, e muita.
Ao Legislativo, cabe ampliar o leque da discussão. O dilema do “dinheiro fácil” não desaparece com regulamentações superficiais; ele apenas se disfarça. Enquanto isso, a população continua exposta a um ciclo que promete sorte, mas entrega prejuízo.