Na manhã de segunda-feira (11), a vereadora Lívia Miranda (PCdoB), esteve na Cidade da Polícia para registrar ocorrência sobre um crime virtual do qual foi vítima. Segundo a denúncia, uma página nas redes sociais dedicada a ataques contra sua atuação e projetos publicou conteúdo com caráter discriminatório, distorcendo uma proposta de sua autoria sobre a doação de leite humano. O texto incitava violência sexual contra a parlamentar, incentivando que homens fossem até seu gabinete para cometer atos obscenos.
O projeto de lei citado pela postagem tem como objetivo ampliar as doações ao Banco de Leite Humano do Hospital Alcides Carneiro, o único da cidade que funciona 24 horas e salva a vida de recém-nascidos, especialmente em UTIs neonatais.
“No mês da visibilidade lésbica, receber uma ameaça que estimula violência sexual é inteiramente repudiável. É como se fosse possível ‘corrigir’ minha orientação sexual, tratando-a como erro. Isso é uma tentativa de descredibilizar minha atuação parlamentar, e não vamos aceitar”, afirmou Lívia, que é primeira parlamentar assumidamente lésbica da história de Petrópolis.
Reclassificação da ocorrência
A polícia inicialmente registrou o caso como difamação, mas a vereadora e sua equipe jurídica solicitarão a reclassificação como violência política de gênero, crime previsto em lei para punir ataques motivados por discriminação contra mulheres que exercem funções públicas.
A advogada Thais Justen, que acompanha o caso, reforçou a importância do enquadramento. “A legislação reconhece a violência política praticada contra mulheres em razão do gênero. Essa violência desrespeita o espaço da Lívia enquanto mulher democraticamente eleita. Não vamos descansar até que os responsáveis sejam responsabilizados”, disse
Lívia também defendeu a regulamentação das mídias digitais. “Crimes virtuais precisam ser investigados com seriedade, seja para proteger dados, combater ataques ou impedir a propagação de ódio e desinformação. Fica o recado aos agressores: não nos calaremos”, enfatizou.
Manifestação da União da Juventude Socialista (UJS)
A União da Juventude Socialista de Petrópolis (UJS) divulgou nota de solidariedade à vereadora, denunciando que as imagens e textos usados contra ela também reforçam estereótipos racistas. Segundo a entidade, o material reproduziu de forma criminosa a hipersexualização de homens negros — prática ligada à lógica colonial e usada para humilhar comunidades racializadas.
“Ataques como esse são duplos: contra uma mulher lésbica que ocupa espaço político e contra a população negra. Isso reforça violências estruturais que atravessam nossa sociedade”, afirma o texto.
A UJS destacou ainda que Petrópolis enfrenta graves problemas sociais e que a violência de gênero está entre as desigualdades mais marcantes. “Repudiamos veementemente tais práticas, que buscam silenciar e deslegitimar a luta por políticas públicas essenciais à vida e à dignidade de nossa população. Reafirmamos nosso compromisso de combater todas as formas de opressão, seja no campo virtual ou nas ruas, e de defender o direito das mulheres, da população LGBTQIA e do povo negro de ocupar plenamente os espaços de decisão política. “, concluiu a entidade.