No Brasil, o tabagismo tradicional ainda lidera como causa evitável de doenças cardiovasculares. Hoje, o cigarro não é mais a única ameaça: os cigarros eletrônicos (vapes, pods) também mostram crescente impacto vascular, e ainda são vistos equivocadamente como “menos prejudiciais”. A verdade médica e científica é clara: tanto o fumo quanto o vaping aumentam a rigidez arterial e comprometem a saúde do endotélio vascular — fatores que aceleram aterosclerose e elevam o risco de infarto e AVC.
As artérias saudáveis funcionam como elos de amortecimento: expandem-se e retraem-se a cada batida, suavizando a pressão. A fumaça, seja do cigarro ou do vape, causa liberação de radicais livres e inflamação, comprometendo a vasodilatação e resultando na rigidez progressiva das paredes arteriais e pico de pressão. Ou seja, maior carga de trabalho para o coração.
Estudos têm demonstrado que até fumar apenas um cigarro pode elevar imediatamente a rigidez arterial, com aumento da velocidade de onda de pulso (marcadores associados a mortalidade cardiovascular). Em análises de longo prazo, fumantes crônicos têm velocidade de pulso e pressão de pulso significativamente mais elevadas do que não fumantes.
É um mito perigoso acreditar que o vape seja inofensivo. Pesquisas recentes revelam que o uso crônico de e‑cigarros causa disfunção endotelial comparável ao cigarro tradicional, com menor produção de óxido nítrico e disrupção do fluxo sanguíneo. Estudos in vitro e em animais mostram também que a exposição prolongada à fumaça de vape acelera a rigidez da aorta. Em humanos, usuários regulares de vaporizador com nicotina exibem alterações na pressão arterial e função vascular similares às do tabagismo ativo.
A rigidez arterial aumenta a pressão de pico durante a sístole e força o ventrículo esquerdo a bombear com maior tensão, contribuindo para hipertrofia do músculo cardíaco, disfunção e, a longo prazo, insuficiência cardíaca. Essa “fumaça que endurece” arma um mecanismo invisível e acumulativo: em fotos de exames de imagem vascular, os fumantes apresentam “cicatrizes químicas”: artérias mais rígidas, menos permeáveis ao oxigênio e nutrientes.
Trocar cigarro por vape só reduz alguns carcinógenos se houver cessação total posterior — mas não elimina o dano vascular. O ideal do ponto de vista cardíaco é cortar absolutamente ambos. O benefício vascular de parar de fumar já aparece em poucas semanas, com a diminuição da rigidez arterial. A aerodinâmica das artérias se recupera, e o risco de eventos cardiovasculares começa a cair.
Se você convive com fumantes, saiba que a fumaça passiva também endurece as artérias. A melhor prevenção ao coração familiar é ambiente livre de fumo. Cigarro e vape não são distintos em destruição vascular: ambos aumentam o trabalho cardíaco, reduzem o endotélio e aceleram a aterosclerose. Até os chamados “vaping puros” trazem risco à saúde. O fato é que não há fumaça boa para o seu coração. Parar de fumar é o maior bem que você faz para a sua saúde.