A aprovação do colírio VIZZ pela FDA, nos Estados Unidos, chamou a atenção por oferecer uma alternativa aos óculos e às lentes de contato no tratamento da presbiopia, a popular “vista cansada”. Mas, segundo a oftalmologista Ana Luísa Quintela Aleixo, da Oftalmo Clínica de Petrópolis, o medicamento tem limitações e não serve para todos os casos.
“A presbiopia é a perda progressiva da capacidade de foco para perto que acontece a partir dos 40–45 anos. Na prática, o paciente precisa esticar o braço para ler e se torna dependente dos óculos”, explica a médica. Para ela, a chegada do VIZZ “representa mais uma opção para tratar a presbiopia, além dos óculos e lentes de contato”.
O colírio contém aceclidina 1,44%, substância que atua no músculo esfíncter da íris, provocando miose (pupila pequena). “Isso cria um efeito pinhole, aumenta a profundidade de foco e melhora a visão de perto”, detalha. O medicamento apresentou início de ação em até 30 minutos e duração de até 10 horas. Ainda assim, “30% dos pacientes não tiveram melhora visual significativa”, pontua.
Outro aspecto destacado pela especialista são os efeitos adversos já documentados. “Muito comuns ou comuns são irritação no local da instilação (20%), piora da visão (16%), dor de cabeça (13%) e olho vermelho (8%)”, afirma. Além disso, o fabricante recomenda cautela ao dirigir à noite durante o uso, já que a pupila contraída pode comprometer a visão noturna.
A médica lembra ainda que há restrições importantes: “Pacientes com grau alto para longe não se beneficiam do colírio e quem tem histórico de uveítes e descolamento de retina, em princípio, não deve usar a medicação”.
Outro ponto que pode limitar o acesso é o preço: o VIZZ será lançado nos Estados Unidos por 79 dólares por 25 doses. No Brasil, ainda não há previsão de chegada. “Primeiro é necessário que o laboratório solicite autorização à Anvisa em processo que geralmente leva em torno de dois anos”, explica Ana Luísa.
Para a especialista, o medicamento tem espaço no arsenal terapêutico, mas não deve ser visto como solução definitiva. “O colírio não vai ajudar todos os présbitas, mas pode ser mais uma alternativa para pacientes dependentes de óculos para perto, especialmente para uso eventual”, conclui.