Cidade da Serra revive tradições, inspira novas gerações e sonha com um autódromo próprio
Por Gabriel Rattes
Petrópolis recebeu um título que mexe com a memória e a identidade da cidade. A partir da Lei Estadual nº 10.952/2025, sancionada pelo governador Cláudio Castro, o município foi declarado Capital Estadual do Automobilismo. A iniciativa é de autoria dos deputados Sérgio Fernandes e Chico Machado e foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
O reconhecimento é celebrado por pilotos e amantes da velocidade. Para o campeão da Fórmula Vee Open, Matheus Theisen, integrante do Circuito Imperial de Automobilismo, a conquista é mais que simbólica. “Fiquei muito feliz quando isso se concretizou, pois realmente é merecido que nossa cidade tenha esse título. Com tanta história no esporte a motor, tantas personalidades que estiveram aqui e quantas outras ainda são criadas com essa paixão pela velocidade, não poderia ser diferente. Eu, piloto representando Petrópolis no Brasil todo, afirmo por mim e por meus colegas de pista que isso é um orgulho para todos nós”, disse.
Um século de velocidade em Petrópolis
O automobilismo tem raízes profundas em Petrópolis. A estreia da cidade aconteceu em 1908, quando o piloto Gastão de Almeida venceu uma prova que partiu do Rio e terminou na Serra. Nos anos seguintes, percursos como Petrópolis–Juiz de Fora e Petrópolis–Teresópolis marcaram a época das corridas de resistência.
Com a evolução dos carros, vieram os circuitos de rua. Em 1932, a famosa Subida da Montanha levou emoção à Serra, seguida pela primeira corrida no Centro Histórico em 1936.
O auge veio em 1948, com o Circuito Cidade de Petrópolis, que se manteve por duas décadas. Em 1968, cerca de 50 mil pessoas assistiram à corrida que percorreu 3.200 metros pelas principais ruas do Centro, consolidando a cidade como palco nacional do automobilismo.
Esse legado hoje é revivido pelo Circuito Imperial de Automobilismo, que busca resgatar a memória e preparar o futuro da modalidade na cidade.
Uma história que vai além das corridas
O automobilismo em Petrópolis tem momentos simbólicos que marcaram gerações. Theisen lembra um episódio especial.
“São tantas histórias incríveis, pessoas incríveis que correram aqui, mas a história que mais me emociona é sobre o gerador doado pela Equipe Willys para o Pronto Socorro da cidade. Na época o Pronto Socorro não tinha gerador, então quando acabava a luz, era terrível. Os pacientes precisando de atendimento, sem luz. Então essa foi mais uma contribuição do automobilismo, que salvou tantas vidas e até hoje ainda funciona! Essa história inclusive foi documentada por nós do Circuito Imperial de Automobilismo nesta edição de 2025”.
Tradição que se renova
Embora as corridas no Centro Histórico não sejam mais possíveis, Matheus destaca que o Circuito Imperial já representa a retomada dessa tradição.
“Acredito que tendo pelo menos o evento do Circuito Imperial, uma grande parte da história automobilística da cidade já está sendo resgatada, e o amor pelas velocidade está cada vez mais forte na alma dos petropolitanos. Ainda que não seja possível uma corrida como era realizada antigamente no centro histórico, caminhamos para aumentar ainda mais a notoriedade do esporte à motor aqui na cidade, através do evento”, afirmou o piloto.
O papel do Circuito Imperial
O evento anual vem unindo tradição e futuro. “A cada ano nosso evento relembra as histórias do nosso passado automobilístico e ao mesmo tempo fomenta o esporte para as gerações futuras. A presença das crianças nos simuladores do evento, aprendendo os primeiros passos de como pilotar um carro de corrida, o sorriso de cada um ao ver os carros passando. Estamos revivendo o que já foi um dos maiores eventos do Brasil”, enfatizou.
“Vamos seguir firmes buscando aumentar cada vez mais este evento, ainda mais contando com a aprovação do novo autódromo no Estado do Rio de Janeiro, que irá engrandecer muito o nosso movimento”.
Novos talentos e futuro
Para Matheus, Petrópolis tem vocação natural para formar pilotos e profissionais ligados ao automobilismo. “Nossa cidade é um berço de grandes pilotos e mecânicos, parece brincadeira, mas a velocidade corre no sangue dos petropolitanos. Então a cada grande conquista desse tipo, aumentam ainda mais as possibilidades para quem ama e deseja praticar o esporte. E precisamos ter o automobilismo como um dos principais esportes não somente em nossa cidade, mas também como no estado e no país como um todo”.
Sonho de um autódromo em Petrópolis
Para consolidar a cidade como referência, Matheus defende a criação de infraestrutura própria. “Acredito que o sonho de cada piloto é ter um autódromo em casa, então seria incrível se tivéssemos acesso à uma pista aqui na cidade, com uma boa infraestrutura e apoio, poderíamos receber grandes eventos e ainda gerar muitos empregos, tanto para quem trabalha com o automobilismo ou para outros mercados”.
No entanto, afirma que ainda é uma realidade um pouco distante. “Enquanto isso, precisamos trabalhar juntos ao governo do estado para consolidar o Autódromo Parque de Guaratiba, que também será a casa de tantos automobilistas Petropolitanos, onde poderemos continuar praticando este esporte que trouxe tanto sucesso ao nosso país”, completou.
Foto Estúdios Petrópolis