O Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, que ocorre em 11 de outubro, chama atenção para um problema crescente: a obesidade infantil, que já afeta milhões de crianças e adolescentes no Brasil. Mais do que uma questão estética, o excesso de peso nessa faixa etária está diretamente associado a alterações hormonais que comprometem o crescimento, antecipam a puberdade e aumentam o risco de doenças crônicas na vida adulta.
De acordo com dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), ligado ao Ministério da Saúde, entre 2014 e 2024 o número de crianças diagnosticadas com obesidade quase triplicou no país, passando de 394 para 1.168 registros. Entre adolescentes, os casos também cresceram: de 1.096 para 1.439 no mesmo período. Os números refletem uma tendência preocupante de avanço da obesidade juvenil, acompanhada do aumento da exposição a fatores de risco como sedentarismo, consumo excessivo de ultraprocessados e uso precoce de telas digitais.
“A obesidade na infância provoca desequilíbrios hormonais importantes, como resistência à insulina, aumento da leptina e alterações nos níveis de IGF-1. Esses fatores podem antecipar a puberdade, acelerar a maturação óssea e comprometer a altura final. Além disso, elevam as chances de diabetes, doenças cardiovasculares e outras complicações metabólicas ao longo da vida”, explica Alessandra Rascovski, endocrinologista e diretora clínica da Atma Soma.
Pesquisas apontam que crianças obesas frequentemente apresentam resistência à insulina ainda na infância, condição que afeta o metabolismo da glicose e pode evoluir para diabetes tipo 2. Também são observados níveis elevados de leptina, hormônio que regula apetite e saciedade, mas que em excesso perde sua eficácia. Já a conversão de andrógenos em estrógenos pelo tecido adiposo acelera o amadurecimento hormonal, principalmente em meninas, favorecendo quadros de puberdade precoce.
Essas alterações fazem com que muitas crianças obesas cresçam mais rapidamente nos primeiros anos, mas tenham sua estatura final comprometida devido à aceleração da idade óssea. A longo prazo, também apresentam maior risco de se tornarem adultos obesos, o que multiplica as chances de desenvolver doenças crônicas graves, como hipertensão, diabetes, câncer e problemas cardiovasculares.
De acordo com o Ministério da Saúde, uma das principais estratégias de prevenção é a adoção de hábitos saudáveis desde os primeiros anos de vida, com incentivo ao consumo de alimentos in natura ou minimamente processados e limitação de ultraprocessados, refrigerantes e doces. Fazer as refeições em família, sem distrações como telas, também contribui para a autorregulação da fome e da saciedade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda ainda que crianças e adolescentes realizem ao menos 60 minutos diários de atividade física moderada a intensa, prática que melhora o metabolismo, auxilia na regulação hormonal e reduz o risco de obesidade e resistência à insulina. Além dos benefícios metabólicos, o exercício regular favorece o desenvolvimento motor, o sono, o humor e o desempenho cognitivo.
Para Alessandra, o acompanhamento da saúde infantil desde cedo é imprescindível para prevenir a obesidade e suas consequências. “Cuidar da saúde das crianças é investir no futuro. Pequenas mudanças na rotina, como mais movimento, menos telas e uma alimentação mais natural e, sempre que possível, descascar mais e desembalar menos, podem transformar o desenvolvimento físico e emocional dessa geração. A prevenção é o caminho mais eficaz para que as crianças cresçam com saúde e qualidade de vida”, conclui a especialista.