O “Jongo”, é uma dança de origem bantu, ela integra percussão de tambores, dança e canto. No Brasil, durante o período escravocrata, os negros escravizados a praticavam dentro das senzalas como forma de resistência à “casa grande”, principalmente das fazendas de café do Vale do Paraíba. Essa memória reforça o quão rica é a cultura afro-brasileira, destacando a importância de manter viva a história de um povo sábio que soube lutar, e resguardar os ensinamentos. É com esse sentimento que o projeto “Jongo e Contação de História”, chega à Estação Nogueira na quarta-feira, 29 de outubro, durante os períodos da manhã e tarde.
O evento reúne canto, dança, ritmos, contação de histórias e oficinas que transmitem uma mensagem de resistência e de valorização à cultura afro-brasileira. As apresentações são por conta do Coletivo Afro Serra, realizado pela produtora cultural Monica Valverde, o projeto foi contemplado através do edital público “Nossos Museus” da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura.
Cada integrante do grupo fará uma parte da movimentação, nas oficinas de Jongo, com Deivid Ribeiro (Mestrando Preceito) e Monica Valverde. A contação de histórias voltadas a “Capoeira”, por meio de Júlio César de Anúncio da Silva (Mestre Suspeito) e com o tema “Griôs do Quilombo da Tapera”, fica por conta de Eva Lucia Casciano (Diretora da Associação dos Remanescentes o Quilombo).
Jongo
O Jongo também é conhecido como ‘Caxambu’ ou ‘Tambu’, nele os negros utilizavam linguagens próprias, conhecida como pontos, para confundir os fazendeiros e através disso combinavam fuga do cativeiro e festas de tambor. Um exemplo disso, é o trecho de um ponto de jongo, intitulado ‘Cangoma Me Chamou’, de Clementina de Jesus, que mistura a linguagem única usada na época: “Tava durumindo cangoma me chamou. Tava durumindo cangoma me chamou. Disse levante povo cativeiro já acabou”, fragmento da canção.
A manifestação cultural representa a região sudeste, em cada território se canta, toca e dança de forma diferente. Em Petrópolis, ela também é bem presente, praticantes buscam resguardar e preservar a história da dança. Uma referência no trabalho de manter viva a arte no território é o Coletivo Afro Serra, fundado pela produtora cultural Mônica Valverde. Através dela, iniciou o processo de reconhecimento do Jongo como Patrimônio Cultural Imaterial do Município de Petrópolis.
Caminho
As primeiras movimentações para o título começaram quando Mônica protocolou junto ao gabinete da vereadora Júlia Casamasso (Psol), um ofício solicitando a criação do “Dia Municipal do Jongo” e a declaração de reconhecimento como Patrimônio.
O resultado veio em 27 de fevereiro, o dia em que a Prefeitura sancionou a Lei 9003/25, de autoria de Júlia, reconhecendo a dança. Para a cidade o título faz-se refletir sobre a narrativa da “Cidade Imperial” que insiste em apagar traços da cultura afro.
Símbolo de resistência
Para Mônica, é importante esse reconhecimento, pois a história e cultura do povo preto buscou ser apagada pelas elites em todo o território brasileiro, e não foi diferente no município. “No passado, o território que hoje conhecemos como Petrópolis era sediado por diversas fazendas, que se utilizavam da mão de obra africana escravizada nas lavouras. Dessa forma, o canto e a dança desses ancestrais foram passados entre as gerações que aqui habitavam, mas, sofreram forte apagamento no final do século XIX e no século XX”, explicou.
A produtora Cultural, enfatiza que vários grupos de capoeira da cidade realizam o jongo em seus territórios, porém, a prática não tem visibilidade. “Ao som de tambores e com letras que falam do dia a dia das pessoas e comunidades, o jongo serviu como elemento de resistência, sendo hoje uma tradição cultural presente em toda a região Sudeste. Se faz urgente e necessário resgatar e multiplicar os saberes dos nossos ancestrais para que a cultura Afro-brasileira não desapareça”, disse.