Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o setor de comércio em Petrópolis registrou, entre janeiro e outubro de 2025 um saldo negativo de 38 vagas, um aumento de cerca de 80%, se comparado ao mesmo período de 2024, quando o saldo era menos 21. Após a queda, os meses de novembro e dezembro ajudaram o setor a fechar o ano com saldo positivo de 240.
O fechamento de lojas pela queda de movimentação e vendas, é um reflexo desses dados. O recorte pode ser sentido em vários espaços, das novas empreitadas as tradicionais, como o recente anúncio de encerramento de atividades da loja Mac’s – Ternoclub, Ele e Ela – localizada na Rua do Imperador, 1.016, no Centro Histórico de Petrópolis, a qual residia a cerca de 54 anos.
A tradicional sede fechará, porém o legado continuará com duas lojas instaladas na Galeria Gelli, que fica na mesma redondeza. Segundo o administrador Newton Macedo, de 83 anos, um dos motivos do encerramento é a queda de vendas e procura, além das questões de enchentes, que é um problema crônico no município. “A queda de vendas foi um dos motivos, então resolvemos fechar neste ponto tradicional, porque tudo tem um princípio, um meio e chegou no nosso fim. Estamos acabando com essa loja, vamos ficar até o dia 30 de novembro para vender todo o estoque na promoção, com liquidação”, disse.
Legado
A continuidade do legado que iniciou em 1970, resistia no mesmo local. Luzia Maria, cliente há cerca de 50 anos, contou que criou uma conexão com o estabelecimento. “Meu coração corta porque tenho uma relação muito boa com a loja. Fico feliz porque a Mac’s vai continuar em duas outras filiais. As histórias e lembranças vão continuar comigo, e espero continuar com o mesmo sentimento nas filias”, expressou.
De acordo com o senhor Macedo, já existe uma loja na galeria, nomeada Jovem Mac’s. “Temos uma com o mesmo padrão daqui e a outra que abriu recentemente, a Mac’s Elegance, com um nível de mercadoria um pouco superior, onde vamos dar continuidade ao atendimento que nós temos com os nossos clientes”, pontuou.
Tendência
No mesmo ponto do comércio, na altura da rua do Rua do Imperador, 1.016, somam-se três estabelecimentos fechados, todos com ramos diferentes: uma era a “Aladin”, onde se vendia abajur e luzes diferentes; outra era o “Sucão” do ramo alimentício; e a Mac’s no ramo de trajes sociais.
Outro ponto que vem sofrendo com a queda de vendas é o Polo de Modas Rua Teresa. Logo no início da avenida é possível ver um hall de lojas fechadas, com plaquinhas de aluga-se ou vende. Esse problema, se estende para além deste ano, e pode ser sentido de forma latente após a pandemia do Covid-19, que ainda apresenta desafios para o setor. A situação precisou da intervenção do poder público, para que fosse possível resgatar e fomentar a principal vitrine da indústria da moda de Petrópolis.
Para além de vendas
Outra preocupação dos comerciantes localizados no Centro Histórico é o problema crônico com as enchentes e desastres sociais do município. A mais recente memória é de 15 fevereiro e 20 março de 2022, datas que ocorreu a tragédia socioambiental, que atingiu o município, deixando 235 mortos e cerca de quatro mil desabrigados. O episódio, sobrevém um debate sobre o modelo de cidade que a região está inserida, pois há um grande histórico de desastres, como a do Vale do Cuiabá em 2011, que deixou 72 mortos.
Por mais que o tempo tenha passado, a cidade ainda não está preparada para receber grandes chuvas, isso é o que a população ecoa. O administrador da Mac’s é um dos que sente a insegurança, que também foi um dos principais pontos para o fechamento da loja.
“Aqui na cidade, tudo está puxando para trás, a queda de venda por causa desses problemas de enchente que não se recupera nunca na vida. Hoje vou para casa, e não sei se eu tenho que levantar às duas horas da madrugada para salvar a mercadoria. Na última vez, em 2022 a enchente cobriu a gente aqui dentro e perdemos tudo, foi um prejuízo de mais de R$ 500 mil”, exclamou Macedo.
Ele continua ressaltando que não é oferecido para população um plano ou medida concreta para minimizar os impactos. “Nada é feito para que isso seja minimizado e quem continua com medo somos nós”, disse.