A 13ª Festa Afro Ubuntu de Petrópolis, que começa nesta quarta-feira (19) e segue até 20 de novembro, foi anunciada na última sexta-feira (14), cinco dias antes da realização. A medida foi alvo de críticas por parte de artistas e produtores culturais que fomentam a cultura afro na cidade, que ressaltaram que a programação lançada apenas dois dias antes da festa está bem escassa se comparada a 2024, onde se teve 11 dias de festa consecutivos, de 15 a 25 do mesmo mês, com cerca de 45 atividades variadas que circularam além do Centro Histórico, contra 17 produções que acontecem apenas na Praça da Liberdade, sem expansão.
A festa que celebra a memória negra na cidade e o resgate da história de um grupo que teve a lembrança sufocada e roubada por uma sociedade que insiste em invisibilizar corpos negros na maquete imperial moldada lá em 1841, no surgimento do território, parece segundo as denúncias, não respeitar quem de fato luta e promove a cultura afro em Petrópolis. “Inadmissível que tenhamos a programação da festa afro Ubuntu sendo divulgada faltando dois dias para a festa. Além do mais uma festa curta, com o mínimo de recurso utilizado, sem dar a voz para quem realmente movimenta o cenário preto do município”, disse um artista e produtor cultural que não será identificado.
Além da repentinidade, outras falhas apontadas são em relação a contratação de espaços que não condizem com o movimento e a falta de estrutura, como a ausência de barraquinhas montadas na Praça da Liberdade que é um dos símbolos da festa, por venderem alimentos tradicionais da cultura como acarajé. “Não há uma barraca montada da festa Ubuntu. Dei uma passada na praça, não vai ter fomento ao comércio? Não vai ter venda de nada?”, questiona outro artista, que também não será identificado.
Com isso foi sublinhado pelo grupo qual foi o critério de escolha e qual foi a verba que custeará o evento que antes foi adormecido pela falta de verba. “Inaceitável que vejamos os shows de peso com artistas somente de fora e quem faz a cultura acontecer na cidade não seja convidada para essa programação. Quem escolheu os artistas? Quem pagou os artistas?”, enfatizou o artista.
Outro ponto, é a não divulgação da inscrição do Prêmio Ubuntu 2025, uma iniciativa que celebra os feitos de personalidades negras da cidade. “Péssimo não temos ainda a divulgação e nem a inscrição para indicação pública do prêmio”.
Descontinuidade de políticas antirracistas
O tratamento que a Ubuntu recebeu do governo municipal, reacendeu a discussão sobre a descontinuidade dos instrumentos públicos que combatiam o racismo dentro do território, como por exemplo o Selo da Escola Antirracista, uma vertente que inclusive foi lançada na festa em 2023, para promover a igualdade racial dentro das escolas municipais e privadas. E também o Disque Antirracista, que surgiu no mesmo período, para fortalecer os canais de denúncias contra os crimes na região, que ocupa o 3º lugar no ranking das denúncias de racismo no estado, registradas entre 2018 e 2019, de acordo com dados do Dossiê de Crimes Raciais (ISP/RJ), divulgado em 2023.
“Percebi que houve um retrocesso quanto ao que tínhamos conquistado em anos anteriores quanto a políticas de educação e proteção da população negra, como por exemplo a continuidade do disque antirracista e do selo. Tudo isso era algo concreto que vem perdendo espaço hoje, parece que não é prioridade do governo essa pauta”, ressaltou o produtor cultural.
O que diz a Prefeitura
O Correio Petropolitano questionou a programação repentina, as falhas, o fato de possivelmente não ter as barraquinhas e a descontinuidades das políticas públicas em prol da pauta racial.