Necessidade de sustento, sobrevivência e dinheiro são os principais pontos para um jovem ou adulto se vincular ao tráfico de drogas. Isso é o que aponta o recorte apresentado pela Data Favela, em conjunto com a Central Única de Favelas (Cufa), ao realizar a pesquisa “Raio X da Vida Real” nos territórios periféricos, que aconteceu em 23 estados brasileiros, de agosto a setembro de 2025. Petrópolis foi uma das cidades contempladas no levantamento. Foram ouvidas 57 pessoas, que expressaram aos pesquisadores que a falta de perspectiva, oportunidades, abandono e violência foram o fio condutor para que chegassem ao crime.
Conforme os dados, 49% dos entrevistados nos 23 estados revelam que a falta de dinheiro e a desigualdade formam o motivo do aliciamento; no Estado do Rio de Janeiro essa parcela aumenta, sendo 55% deles. “Falta de dinheiro mexe demais com a gente”, ressoa a fala de um jovem entre 27 e 31 anos, coletada na pesquisa. O cenário é um reflexo da sociedade brasileira que foi moldada em cima da violência. Conforme a análise, 63% dos entrevistados ganham até dois salários mínimos mensais, em torno de 3 mil reais.
Cenário em Petrópolis
O estudo faz, de certa forma, cair as vendas dos que só enxergam as fantasias de uma “Cidade Imperial” inventada para poucos, há 182 anos. A maquete pensada por motivos idealistas continua tentando sustentar a imagem de um Império; porém, essa leitura não é consistente, tendo em vista a população que passa por problemas reais, como falta de oportunidades e infraestrutura dentro das comunidades periféricas, que atualmente são mais de 48.
Nesse sentido, os pesquisadores que percorreram esses territórios revelaram histórias daqueles aliciados pelo crime, marcadas por violências e escassez, traçando a realidade com a necessidade. “Estes meninos começam nesta vida devido à necessidade de se sustentar e, às vezes, a família. Muitos começam indo fazer carregador em comércios do bairro e, com o tempo, acabam fazendo pequenos furtos até que se veem envolvidos pelo tráfico”, revelou.
Outro relato mostra que a realidade acaba os levando para esse caminho. “Alguns são meninos que um viciado pede para pegar droga ou levar eles na boca de fumo. Isso faz com que eles sejam vistos como ‘o corre da boca’, aquele que fortalece a venda dos traficantes. Dali ganham um dinheiro para comprar alguma coisa, pagam a marmita deles e, quando se tocam, já estão envolvidos. Tudo acontece de modo bem sutil. Na sua maioria, saíram da escola no primeiro segmento, não têm nem o 8º ano”, disse.
Outra visão dos voluntários também segue na linha da estruturação e falta de investimento público dentro das comunidades, no que tange a políticas de desenvolvimento, intervenções culturais, cursos profissionalizantes, entre outras medidas. “Tem o ciclo do descaso e abandono do poder público. Algumas dessas crianças não têm expectativa de mudar de vida por medo. Outros sonham em sair e muitos disseram que, se pudessem voltar no tempo, não tinham entrado nesta vida”, contou.
Ciclo
Como a última fala pontuou sobre o desejo de sair e oportunidades que não teriam levado aos resultados, o levantamento aponta que, apesar de o crime ser justificado como o meio de sustento da família, a base familiar também atua como um instrumento de saída, pois o medo da continuidade da violência é um dos objetivos maiores para o desejo da quebra. O estudo mostra que 84% dos analisados afirmam que não deixariam os filhos entrarem para o crime.
Nesse sentido, cerca de 70% no Estado do Rio disseram que deixariam o tráfico, e apenas 18% não largariam. Os que disseram sim enfatizaram que, se tivessem um emprego formal que garantisse o sustento econômico e estabilidade pessoal, seria mais fácil. Já os que responderam negativamente apontaram o mesmo argumento, mas no sentido do medo de não conseguir outra fonte de renda e sustentar a família.
Em relação a esse recorte, a pesquisa revela que o fator econômico balanceia as escolhas. [….] “Os resultados mostram que a principal motivação para a entrada no ciclo da violência e do crime, bem como sua perspectiva de saída, é a necessidade econômica. 49%, aproximadamente um em cada dois entrevistados em nível nacional, apontam a falta de dinheiro como o principal motivo para a entrada no crime” […], trecho dos dados do Raio X da Vida Real.