Prefeitura de Petrópolis afirma que eles serão preservados no novo projeto de lei
Por Gabriel Rattes
Representantes de instituições culturais, arquitetos, guias de turismo e membros da comunidade germânica participaram de uma coletiva para criticar a proposta de formalização dos bairros apresentada pela Prefeitura. O grupo afirma que o projeto desconsidera o Plano Koeler, compromete os quarteirões históricos e pode facilitar a especulação imobiliária.
Já o governo municipal afirmou que nenhum quarteirão histórico será alterado e que o projeto de lei incluirá um artigo específico garantindo a preservação integral do traçado original.
Participaram da coletiva: Pedro Troyack, Roman Reisky e André Preisner (Clube 29 de Junho), Elizabeth Maller (Instituto Histórico de Petrópolis), Juscelino Rodrigues (Associação dos Guias de Turismo), Renata Pertot (arquiteta) e Juliana Teresa Hannickel (comunidade germânica).
Críticas
As entidades afirmam que o projeto não contempla a manutenção do traçado urbano planejado por Júlio Frederico Koeler e por Otto Reymarus. Segundo os representantes, a iniciativa chega no momento em que o patrimônio histórico enfrenta maior fragilidade, diante de alterações recentes nas estruturas de proteção do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Eles também citam preocupações com:
- risco de enchentes;
- impactos arquitetônicos e paisagísticos;
- ausência de estudos geotécnicos mais amplos;
- falta de garantias sobre a preservação dos casarios tombados.
Juliana Teresa Hannickel, representante da comunidade germânica, relatou dificuldades enfrentadas pelos moradores. “Eu moro em um imóvel tombado, e vejo que eles estão realmente tombando. Ninguém consegue manter. Só pintar a fachada custa mais de R$ 5 mil. Não adianta preservar os quarteirões e não preservar os casarios e o meio ambiente”, disse. Para ela, a preservação dos quarteirões ajuda a evitar a especulação imobiliária.
Essas foram as palavras mais repetidas pelos representantes “especulação imobiliária”. Segundo eles, Petrópolis não comporta um crescimento acelerado. O grupo afirma que o abairramento facilita alterações futuras no zoneamento. “Se a cidade já não comporta nem o que existe hoje, imagine uma explosão imobiliária”, enfatizaram.
Turismo
O setor de turismo também demonstrou preocupação com a proposta. Segundo os guias, a alteração da lógica espacial dos quarteirões — que sempre orientou a história contada aos visitantes — pode comprometer a compreensão do passado da cidade.
O representante dos guias de turismo, Juscelino Rodrigues, explica que grande parte do trabalho dos profissionais é baseada justamente na tradição dos quarteirões e na memória das famílias que deram origem a Petrópolis. Ele afirma que “o impacto é grande”, porque os guias são responsáveis por transmitir essa história.
Juscelino exemplifica o problema que, segundo ele, pode surgir caso os quarteirões percam identidade ou sejam confundidos com bairros. Ele diz ser difícil “imaginar você chegar dentro de um quarteirão e não poder falar que aquele espaço é um quarteirão”. Para ele, ao transformar um quarteirão em bairro ou ao inverter nomenclaturas, a narrativa histórica fica comprometida: “Às vezes, o bairro recebe o nome do quarteirão, o que é totalmente errado. O certo é ter o quarteirão, e dentro dele o bairro — não o contrário”.
O guia reforça que esse tipo de mudança “afeta muito o turismo”, porque interfere diretamente na maneira como a história é contada e compreendida pelos visitantes. “Isso afeta a nossa história e a forma como iremos contar essa história para os visitantes que vêm para Petrópolis”, completa.
A presidente do Instituto Histórico, Elizabeth Maller, compartilha da mesma preocupação. Para ela, a ligação entre turismo e preservação histórica é indissociável. “O turismo se apropria da história. Nós temos uma história que precisa ser preservada e ela está viva na memória de quem mora aqui e até de quem já se foi. Petrópolis sempre foi lembrada como cidade preservada. Precisamos lutar para manter isso”, finalizou.
Visão da Prefeitura
Embora as críticas, a Prefeitura de Petrópolis afirma que a formalização dos bairros não provoca nenhuma mudança nos quarteirões históricos. Segundo o governo, os 22 quarteirões originais serão mantidos como foram criados. Afirmaram também que o projeto de lei, que será enviado para a Câmara Municipal, vai incluir um artigo para garantir a manutenção dos quarteirões.
“A formalização dos bairros não altera nada disso. Nenhum quarteirão será modificado ou afetado pelo trabalho que está sendo construído agora. Os quarteirões permanecerão como historicamente foram pensados tanto pelo Major Júlio Frederico Koeler quanto por Otto Reymarus”, afirmou o secretário de Planejamento e presidente do Conselho Revisor do Plano Diretor (CRPD), Fred Procópio.
A Prefeitura destacou que a Companhia Imobiliária Petropolitana ainda utiliza os quarteirões em transações imobiliárias e que as delimitações estão disponíveis no site oficial, na área de “Mapas e Cartografia”. Explicou também que a “delimitação de quarteirões” (recorte físico e histórico) e “formalização de bairros” (recorte administrativo e socioespacial) são processos distintos.
A Prefeitura reforçou que o processo de formalização dos bairros passou por consulta pública e cinco audiências realizadas nos distritos (Posse, Pedro do Rio, Itaipava, Cascatinha e Petrópolis). No entanto, representantes de moradores e do setor turístico contestam essa avaliação.
Para eles, a participação popular não ocorreu de forma efetiva. Argumentam que grande parte da população não foi alcançada pela divulgação e que o debate sobre a preservação dos quarteirões “não chegou aos principais afetados”. Eles afirmam que, nas reuniões, “a presença popular era mínima”, o que, segundo os movimentos, compromete a legitimidade do processo.
Carta Aberta
Durante a coletiva, divulgaram um documento conjunto em defesa da preservação integral dos quarteirões históricos da cidade. Datado em 21 de novembro de 2025, o documento foi entregue ao prefeito Hingo Hammes e aos vereadores da cidade.
Ao final, a Carta Aberta é assinada por representantes de instituições históricas, culturais, comunitárias e turísticas, foram eles:
- Marcio José Haubrich — Clube 29 de Junho
- Mario Alexandre D’Angelo Mesquita — Casa de Portugal
- Flávio Fiuza — Instituto Bingen
- Raquel Neves — Associação de Guias de Turismo de Petrópolis
- Renata Pertot — A Nova Brücke
- Elizabeth Maller — Instituto Histórico de Petrópolis
- Maria das Graças Vescovini — Casa d’Itália Anita Garibaldi de Petrópolis
- William da Silva Cardoso — Associação dos Grupos Folclóricos Alemães de Petrópolis
- Charles Rossi Klein – Conselho Municipal de Turismo (Comtur)
- Rômulo Winter Galvão de Luna — Igreja Luterana de Petrópolis
(Assinaturas conforme documento original)
Foto Gabriel Rattes