Em Nova Friburgo, o caso da morte de Isadora Cardoso, de oito anos de idade, acendeu o debate da precarização da saúde no município e trouxe à tona a demora de entrega da obra da Unidade de Urgência e Emergência na localidade de Lumiar, localidade onde residia a criança.
A menina morreu após ser atendida duas vezes na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Conselheiro Paulino e mandada de volta para casa em ambas. O quadro clínico piorou e, quando foi aconselhada a transferência para o Hospital Municipal Raul Sertã, cerca de 30 km de distância do bairro de origem, a ambulância que atendia a localidade estava com defeito e, então, o trajeto foi realizado no carro da família, mas Isadora não resistiu ao traslado.
A Prefeitura confirmou que a ambulância estava com defeitos no dia. “Reconhecemos que, nos últimos dias, o veículo que atende aos distritos teve problemas mecânicos e os processos de manutenção para restabelecer a totalidade da frota já estão adiantados”, reforçou.
Repercussão do caso
Tal pronunciamento repercutiu negativamente na região. Vereadores e a sociedade civil se pronunciaram questionando a inércia da Prefeitura frente aos constantes casos de mau atendimento na saúde. A vereadora Maiara Felício (PT) lamentou o ocorrido por meio das redes sociais.
“Nova Friburgo vive hoje o luto pela perda precoce da pequena Isa, de apenas 8 anos. Uma dor ainda maior pelo sentimento de ser evitável: a ausência de estrutura médica para atendimentos em Lumiar. Isa passou mal, precisou de ajuda imediata e, mais uma vez, o distrito não tinha socorro disponível. Uma tragédia que jamais deveria ter acontecido”, nota de pesar publicada no domingo (14).
A população, em forma de protesto, cobriu os enfeites de Natal expostos em Lumiar pela Prefeitura com sacos de lixo e papéis “luto”. Também organizaram um abaixo-assinado reivindicando melhores condições na saúde do município.
“Trata-se de uma perda irreparável, que atravessa uma família e fere toda a comunidade. Independentemente das apurações que venham a ocorrer, esse fato expõe uma fragilidade grave na garantia do direito fundamental à saúde, especialmente em situações de urgência”, diz um trecho do documento.
Em outra parte, ressaltam a necessidade da instalação de uma unidade fixa de emergência na localidade para atender a população em casos extremos. “Lumiar e São Pedro da Serra são regiões com população fixa e também com intenso fluxo turístico ao longo do ano. Em feriados e alta temporada, a demanda por atendimento cresce significativamente, sem que a infraestrutura de saúde acompanhe essa realidade. Emergências não escolhem horário, dia ou estação”, descreve outro trecho.
MPRJ é acionado
O vereador Carlos Damião (PT) também lamentou o acontecimento e salientou que já vinha denunciando a paralisação das obras da Unidade de Urgência e Emergência. A partir disso, na segunda-feira (15), protocolou uma representação no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), solicitando a apuração sobre eventual omissão do município na entrega da unidade, a necessidade de atendimento 24 horas e a ausência de uma ambulância.
Investigação
Diante dos fatos, a Prefeitura informou que a Secretaria de Saúde já está em contato com a direção da UPA, requerendo informações detalhadas sobre o atendimento prestado e os protocolos médicos adotados. Esclareceu ainda que aguarda a conclusão da perícia realizada pelo Instituto Médico Legal (IML), que determinará a causa exata do óbito, para que, após a análise completa das informações, sejam tomadas todas as medidas administrativas e disciplinares cabíveis relativas ao caso.
Quanto ao posto de urgência e emergência em Lumiar, o órgão pontuou que a obra está em fase final de conclusão, restando apenas alguns ajustes estruturais.