O Tesouro Nacional divulgou, nesta sexta-feira (27/6), o Relatório Mensal da Dívida Pública (RMD) relativo a maio de 2025. Os dados apontam melhora no perfil da Dívida Pública Federal (DPF), com aumento do prazo médio, recomposição saudável da carteira e avanço na democratização do Tesouro Direto (TD). A apresentação dos resultados foi feita em entrevista coletiva virtual, com a participação dos coordenadores da Dívida Pública e do programa Tesouro Direto.
O estoque da DPF encerrou maio em R$ 7,670 trilhões, com alta de R$ 53,9 bilhões em relação aos R$ 7,616 trilhões do mês anterior – um aumento nominal de 0,71%. Apesar do resgate líquido de R$ 26 bilhões no período, a apropriação de juros, no valor de R$ 79,9 bilhões, contribuiu para a elevação do estoque. No acumulado do ano, a apropriação de juros é o principal fator de variação, somando R$ 339 bilhões.
A Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) teve seu estoque ampliado em 0,70%, passando de R$ 7,31 trilhões para R$ 7,36 trilhões, devido à apropriação positiva de juros de R$ 75,86 bilhões, que foi neutralizada, em parte, pelo resgate líquido R$ 25,03 bilhões.
Já o estoque da Dívida Pública Federal externa (DPFe) registrou variação positiva de 0,99% sobre o valor de abril, fechando maio em R$ 309,17 bilhões (US$ 54,16 bilhões), com R$ 255,75 bilhões (US$ 44,80 bilhões) de dívida mobiliária e R$ 53,42 bilhões (US$ 9,36 bilhões) relativos à dívida contratual.
Cenário mais favorável
Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Helano Borges Dias, o cenário internacional ao longo do mês foi marcado pela evolução das negociações tarifárias entre Estados Unidos e China, o que contribuiu para reduzir a incerteza e melhorar o apetite de risco dos investidores.
“A interpretação de que as negociações caminhavam para níveis mais equilibrados, reduzindo o potencial de impacto inflacionário e recessivo, especialmente lá nos Estados Unidos, contribuiu para aumentar o apetite de risco dos investidores, melhorando, por exemplo, o CDS, que é uma das principais medidas de risco dos países emergentes”, afirmou, apontando para uma redução de mais de 10% do CDS em praticamente todas as economias.
No mercado doméstico, o efeito positivo se refletiu, principalmente, na parte intermediária e longa da curva de juros, enquanto o curto prazo sofreu impacto da decisão do Banco Central de elevar a Selic em 0,25 ponto percentual (p.p.). “Se a gente pegar as taxas de fechamento do mês de abril e de maio, os trechos mais curtos da curva apresentaram elevação, ao passo que os mais longos vão apresentar uma redução”, explicou Helano.
Emissões, resgates e composição
As emissões da DPF em maio somaram R$ 158,51 bilhões, enquanto os resgates alcançaram R$ 184,54 bilhões, resultando em resgate líquido de R$ 26,04 bilhões, dos quais R$ 25,03 bilhões foram da DPMFi e R$ 1,01 bilhão da DPFe.
Em relação à composição das emissões, os títulos prefixados representaram 39,2%, os indexados à inflação (IPCA) corresponderam a 22,6% e os de taxa flutuante, 38,1%. “A gente observa uma melhora da composição, que tem mostrado consistência ao longo do primeiro semestre”, destacou Helano.
Ele também ressaltou o impacto do vencimento expressivo de títulos indexados à inflação, que totalizou R$ 176 bilhões – responsável praticamente pela totalidade dos resgates. Esse foi um fator que influenciou a composição da DPF, com a redução da participação dos títulos de índice de preço no estoque, de 28,5% para 26,6% da dívida, e aumento dos demais componentes, com a taxa flutuante alcançando 48,2% e os prefixados, 21,1%, enquanto os cambiais foram marcados pela estabilidade.
Em relação aos detentores da DPMFi, houve pequenas variações. O grupo das instituições financeiras alcançou 30,1% em maio, seguido pela participação de previdência (23,6%) e de fundos (22,4%).
“Nesse mês, a gente chama atenção para um pequeno aumento da participação de não-residentes, que teve uma variação do estoque de R$ 16,4 bilhões, contribuindo para que no ano ficasse com saldo positivo. No mês passado a gente estava com uma pequena variação negativa”, salientou Helano, acrescentando que também houve uma melhora na composição da aplicação dos não-residentes, com títulos mais longos, especialmente as NTNLs.
Aumento do prazo e diversificação
O prazo médio da DPF aumentou de 4,17 para 4,20 anos, resultado da estratégia de priorizar emissões com vencimentos mais longos e da melhora na estrutura de vencimento. A parcela da dívida com vencimento superior a cinco anos subiu de 26,9% para 27,9%, enquanto a participação dos vencimentos em 12 meses caiu de 17,9% para 16%.
“Na composição dos vencimentos, um aspecto relevante que a gente tem observado também, além da composição mais saudável, é o prazo médio de emissão acima do prazo médio de estoque, o que contribui para melhorar as estatísticas, tanto de prazo médio quanto de vencimento da DPF”, comentou o coordenador da DPF.
Já o custo médio do estoque subiu de 11,62% para 11,73% ao ano, enquanto o custo médio das novas emissões alcançou 13,38%. Segundo Helano, devido à composição da dívida, em momentos de alta da Selic o custo de índice de preço e de cambial tendem a cair. “É um aspecto saudável, que gera uma maior estabilidade do custo médio da dívida em relação aos indicadores individuais e, por isso, a diversificação da carteira é um elemento bastante relevante”, observou.
Segurança na liquidez
A reserva de liquidez do Tesouro saiu de R$ 904 bilhões para R$ 861 bilhões, em maio. Apesar da queda nominal em relação ao mês anterior, o índice de liquidez, que mede a capacidade de cobrir vencimentos nos próximos meses, aumentou de 8,57 para 8,77 meses.
O patamar segue acima do nível prudencial de R$ 193 bilhões, conferindo maior segurança à gestão da dívida. “Esse aspecto está relacionado à estrutura de vencimento. A gente teve um grande vencimento no mês de maio, que contribuiu para reduzir o valor nominal, mas para os vencimentos que a gente tem à frente o restante da reserva de liquidez é mais do que suficiente para cobrir mais meses do que no mês anterior”, pontuou Helano.
Tesouro Direto mais democrático
O coordenador-geral do Tesouro Direto, Paulo Moreira Marques, destacou o desempenho positivo do programa em maio, com emissões de R$ 6,86 bilhões e resgates de R$ 3,23 bilhões, resultado em uma emissão líquida de R$ 3,63 bilhões. Assim, o estoque total alcançou R$ 176 bilhões. “Não é o recorde, mas continua sendo um resultado bem relevante, quando a gente compara com a série histórica de emissões líquidas do programa”, avaliou.
O TD também avançou no processo de democratização do acesso aos títulos públicos. Segundo Paulo Marques, quase 80% dos investimentos no programa são de até R$ 5 mil e 56% são inferiores a R$ 1 mil. “Isso é um resultado dos nossos esforços para democratizar cada vez mais o programa Tesouro Direto”, enfatizou, lembrando que antigamente essa parcela de investimentos abaixo de R$ 1 mil não tinha tanta representatividade.
O número de investidores também segue em trajetória de crescimento, alcançando a marca de 3 milhões de pessoas. “Já estamos com uma marca superior ao fechamento de 2024. Isso reflete muito o nosso esforço de melhorar o programa para a sociedade como um todo”, destacou o coordenador do TD.
Ele também ressaltou a importância da Olimpíada do Tesouro Direto, que está com inscrições abertas e já alcançou mais de 10 mil escolas em mais de 50% dos municípios brasileiros. Nesta edição, 10 mil alunos medalhistas receberão prêmios em títulos públicos de até R$ 400,00.
Forte demanda externa
O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública também apresentou os dados preliminares de junho, que indicam a continuidade de um ambiente favorável para a gestão da dívida, com a evolução das negociações tarifárias entre China e os Estados Unidos, a despeito das tensões no Oriente Médio.
Além disso, a perspectiva é mais positiva na curva de juros local, principalmente na parte intermediária e no trecho longo, com a visão de que a inflação deve convergir gradualmente para a meta, “à medida que o Banco Central siga as indicações de política monetária”.
Um dos destaques de junho foi a emissão externa no valor de US$ 2,75 bilhões, realizada em duas tranches – um papel novo, de cinco anos, e outro de dez anos. “No momento da formação, o book alcançou US$ 11 bilhões, quase quatro vezes o total que a gente emitiu, denotando um grande apetite dos investidores por Brasil”, afirmou Helano.
Ele explicou que as emissões externas têm caráter qualitativo, voltadas a criar uma curva líquida e dar referência para as instituições corporativas, privadas e nacionais que queiram capturar recursos externos. “Foi uma emissão muito bem-sucedida do ponto de vista de timing, de volume e de demanda”, afirmou, lembrando que os dados consolidados de junho serão apresentados no próximo Relatório Mensal da Dívida Pública.