Invisibilização é a prática que apaga traços de algo ou alguém tanto socialmente como culturalmente. A cidade de Petrópolis, que carrega o selo de “Cidade Imperial”, vem perpetuando esse mecanismo de exclusão desde a construção em 1843, onde deixa de lado a contribuição e luta da população negra africana e da classe operária, preservando apenas histórias da Coroa Portuguesa e dos colonos. Como forma de quebrar essa narrativa e evidenciar a presença preta e trabalhadora, a Comissão Especial sobre a Memória Negra e Trabalhadora da Câmara de Vereadores (CEMNT) lançará nesta terça-feira (8), o relatório final das análises historiográficas e outros estudos, que apresenta um diagnóstico aprofundado sobre o racismo estrutural e a invisibilidade histórica desse grupo.
O relatório evidencia outro lado da história. O município carrega memória de resistências, de lutas sociais e de contribuições fundamentais dos povos africanos escravizados e dos descendentes, bem como das mobilizações operárias que marcaram o início da industrialização no Brasil. O relatório é fruto de mais de 190 dias de atividades. Nele, foram sistematiza dados, registros e escutas realizadas no território. Ele propõe um conjunto de ações concretas para o fortalecimento de políticas públicas antirracistas em solo petropolitano.
Criação
O estudo surgiu como uma resposta frente às desigualdades históricas e o apagamento sistemático de marcos fundamentais para compreender a formação social e econômica do município, que tem relação com a população que sofre com o racismo ambiental e falta de políticas de saneamento, por exemplo.
Segundo os representantes da CEMNT, o documento reúne registros de visitas e reuniões com a comunidade quilombola da Tapera. Um dos territórios centenários que nasceu quando a “Cidade de Pedro” tinha apenas quatro anos de fundação, por meio da luta dos escravizados alforriados que viviam na fazenda Santo Antônio. Dona Sebastiana Augusta da Silva Correia foi a matriarca fundadora do quilombo, que nasceu em 1847, e recebeu as terras de seu antigo senhor, Agostinho Corrêa da Silva Goulão. Sebastiana foi ama da fazenda, recebeu o nome que possuía de Agostinho, viveu 120 anos, era rezadeira e conhecedora de ervas medicinais. O Tapera era povoado por negros africanos e atualmente seus descendentes mantêm a história e os conhecimentos vivos.
Outros pontos descritos no documento, foram as ações de fiscalização nas oito escolas municipais certificadas com o ‘Selo Escola Antirracista’, além de encontros com movimentos sociais, pesquisadores, professores e lideranças comunitárias, organizados pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) do CEFET Petrópolis.
O Coordenador e professor do EDUCAFRO, José Luiz, que participou da construção do projeto, contou sobre a atuação baseado no entendimento em como as escolas estavam implementado as medidas do selo “Escola Antirracista” lançado em 2023 a Festa Afro Ubuntu como parte da política pública por uma Petrópolis Antirracista. “Então, o relatório foi muito baseado nessa busca de compreender como essas oito unidades tinham entendido o projeto do selo e como elas implementaram alguma ação, algum projeto, pensando nessa questão das relações étnico-raciais”, comentou.
José Luiz, também falou da importância da ferramenta destacando que o objeto é um aliado no combate ao racismo. “O Estudo é fundamental para podermos aprimorar as políticas de enfrentamento do racismo”, indagou.
Lançamento
O relatório será lançado nesta terça-feira (8), às 19h no CEFET. A mesa de lançamento contará com a participação de Renan Ribeiro, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) Petrópolis; José Luiz, coordenador do núcleo EDUCAFRO Petrópolis; Denise Barbosa, diretora cultural do Quilombo da Tapera; e Álvaro Penalva, professor e pesquisador dedicado ao estudo da classe operária em Petrópolis. A Comissão Especial sobre a Memória Negra e Trabalhadora de Petrópolis é presidida pela vereadora Júlia Casamasso (PSOL). Além disso, outras lideranças comunitárias e pesquisadores comprometidos com a memória negra e operária da cidade estarão presentes.