O primeiro semestre de 2025 se encerra com sinais claros de desaceleração econômica no país — e Petrópolis, embora com características específicas, não está imune a esse cenário. O alerta é da Câmara de Dirigentes Lojistas de Petrópolis (CDL), que acompanha de perto os desdobramentos do setor e observa que, embora as vendas sigam em crescimento, há um ritmo visivelmente menor em relação ao fim de 2024.
De acordo com o presidente da CDL, Cláudio Mohammad, a conjuntura nacional — marcada por inflação persistente, juros elevados, endividamento crescente e impasses fiscais — se reflete na cidade, exigindo cautela, criatividade e inteligência comercial dos lojistas. “Temos um consumidor pressionado, com renda em crescimento, mas também com alto comprometimento. É um momento de rever estratégias, estreitar o relacionamento com o cliente e trabalhar com máxima eficiência”, afirma.
O Panorama do Comércio de julho, que acaba de ser divulgado pela CNDL, mostra que a taxa Selic atingiu 15% ao ano, após nova alta promovida pelo Copom, e que o número de brasileiros com contas em atraso já ultrapassa os 71 milhões. Em paralelo, o Banco Central aponta que 48,9% da renda familiar está comprometida com dívidas. Em Petrópolis, segundo a CDL, esse cenário tem impacto direto na concessão de crédito no varejo e na capacidade de consumo das famílias.
“A alta da inadimplência e os juros elevados inibem tanto o consumidor quanto o lojista. Precisamos de políticas que não apenas estimulem o consumo, mas que tornem o ambiente econômico mais previsível. A incerteza tributária e as tensões no comércio internacional, como as novas tarifas impostas pelos EUA, também influenciam os preços e os custos operacionais”, destaca Mohammad.
Apesar das adversidades, o mercado de trabalho mantém relativa resiliência. Segundo o CAGED, mais de 1 milhão de empregos formais foram criados no país entre janeiro e maio de 2025, sendo 56,7 mil no setor do comércio. Petrópolis registrou retração de 72 vagas no acumulado do ano indo na contramão do número nacional. O segmento de serviços lidera as admissões, com 563 mil novos postos. Em Petrópolis, a CDL observa que o setor de serviços continua impulsionando contratações, mas alerta que neste segmento, a expansão é tímida diante dos custos e da baixa margem de lucro e que a área é formada na maioria por pequenos negócios com número baixo de funcionários.
“Temos visto um esforço muito grande dos comerciantes petropolitanos para manter os empregos e adaptar seus negócios ao novo comportamento do consumidor. A cidade tem um setor forte, mas que ainda depende de sazonalidades. O segundo semestre exige equilíbrio entre controle de gastos, reforço em vendas e atenção às datas-chave”, reforça o presidente da CDL.
De acordo com dados do IBGE, as vendas do comércio varejista cresceram 3,0% no acumulado de 12 meses encerrados em maio, e o varejo ampliado, 2,4%. Os números indicam desaceleração em relação ao início do ano, reflexo direto do cenário macroeconômico. Segmentos como veículos e materiais de construção lideram o crescimento nacional, enquanto atacadistas de alimentos registraram queda.
Para Cláudio Mohammad, o desafio local é manter o comércio aquecido diante de um consumidor mais seletivo e de uma economia menos previsível. “O lojista precisa acompanhar de perto os indicadores, mas também ouvir seu cliente. Quem conseguir ser relevante, gerar valor e oferecer uma boa experiência de compra terá mais chances de atravessar esse momento com solidez. Petrópolis tem histórico de resiliência, e com inteligência coletiva, o comércio saberá responder mais uma vez”, conclui.