Uma audiência pública realizada nesta terça-feira (19), na 4ª Vara Cível de Petrópolis, discutiu a necessidade de implantação de uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) no município. O encontro reuniu representantes da Defensoria Pública, Prefeitura, Câmara de Vereadores, Conselho da Mulher, OAB e Governo do Estado.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) acompanhou a audiência, mas a promotora Vanessa Katz informou que sua manifestação será feita por escrito nos autos do processo. A decisão final sobre o caso será promulgada pelo juiz Jorge Martins somente após essa manifestação.
A Defensoria Pública defendeu a criação imediata de uma DEAM em Petrópolis. A defensora Thais dos Santos lembrou que o Rio de Janeiro é o estado com menos delegacias especializadas na região Sudeste e que, proporcionalmente à população, deveria ter ao menos 52 unidades. Para ela, apenas uma DEAM pode oferecer investigação policial completa, proteção às vítimas e responsabilização dos agressores.
Já o Governo do Estado, representado pela secretária da Mulher, Heloísa Aguiar, e pela delegada Sânia Burlandi Cardoso, defendeu a implantação de um Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher (NIAM) na cidade. Elas afirmaram que o modelo tem eficácia comprovada e que já existem tratativas avançadas para sua instalação em parceria com o Tribunal de Justiça. Também anunciaram para setembro o lançamento de uma delegacia digital, que funcionará 24 horas por dia para receber denúncias de violência contra mulheres.
Entidades locais, como o Conselho Municipal da Mulher e a OAB, também reforçaram a necessidade de uma DEAM em Petrópolis. “Não se trata apenas de dinheiro, mas de vidas”, afirmou o presidente da OAB, João Aires.
Na Câmara, a vereadora Júlia Casamasso lembrou que já existe lei estadual prevendo a instalação de uma DEAM no município e destacou medidas locais já aprovadas, como o auxílio-aluguel para vítimas de violência doméstica.
O prefeito Hingo Hammes declarou que o município apoia a criação da delegacia, mas que, diante das negociações em andamento, considera a instalação de um NIAM como alternativa inicial. Ele disse acreditar que, no futuro, o núcleo possa evoluir para uma unidade especializada.
Dados de violência
De acordo com levantamento feito pelo Correio Petropolitano, a Polícia Militar atendeu, em 2024, a mais de 14 mil chamados relacionados à violência contra a mulher, superando os 13.687 registros de 2023.
Entre janeiro e outubro do ano passado, o município contabilizou 109 casos de estupro, segundo a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. O número representa um aumento de 24% em relação ao mesmo período de 2023, o que evidencia o crescimento dos crimes sexuais.
Outro dado alarmante foi divulgado pelo Ministério de Direitos Humanos e Cidadania. Apenas em julho de 2025, foram registradas 72 denúncias de crimes contra mulheres em Petrópolis, que totalizaram 547 violações — já que uma única denúncia pode reunir mais de um tipo de violência.
Em 2025, até o dia 17 de agosto, o município já contabiliza 435 denúncias e 2.917 violações, número que demonstra a continuidade da escalada da violência contra a mulher na cidade.