Por Gabriel Toledo
O grafite em homenagem à ex-vereadora Marielle Franco, localizado na Praça da Liberdade, em Petrópolis, foi alvo de vandalismo mais uma vez. A obra, instalada no Centro de Informação Turística, amanheceu nesta segunda-feira com pichações contendo xingamentos de cunho racista e machista.
Moradores que passaram pelo local lamentaram o episódio. “Eu acho um absurdo, porque é racismo, é uma coisa nojenta”, disse a vendedora Vanda Lúcia. A aposentada Marilda Guimarães também criticou: “Se a pessoa não gosta, simplesmente não faz isso.”
O painel, pintado em 2022 durante a Festa da Consciência Negra — chamada Ubuntu —, retrata também Abdias do Nascimento, Zumbi dos Palmares e Tereza de Benguela. Marielle, assassinada em 2018 no Rio de Janeiro, é considerada símbolo da luta antirracista e em defesa das mulheres.
Para o presidente interino da Comissão de Promoção da Igualdade Racial (Compir), Ivo Mendes da Silva, o ato reforça a necessidade de mais respeito. Já a vereadora Júlia Casamasso destacou que Marielle “é uma representação de pautas que ainda não avançam. Representa uma incapacidade de dialogar com ideias diferentes. Isso na verdade é um ataque, porque non espaço político, as mulheres geralmente são excluídas”.
O assessor parlamentar Daniel da Cruz classificou a pichação como mais do que um simples vandalismo: “Não é apenas um ato contra o patrimônio, mas contra a luta racial e política.” Ele também lembrou que Petrópolis ocupa o 3º lugar no ranking de denúncias de racismo no estado, segundo o Dossiê de Crimes Raciais divulgado em 2023. Quem também repudiou o caso, foi a vereadora Professora Lívia Miranda. “Nós vamos oficiar o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, a fim de que crimes como esse não aconteçam mais em Petrópolis. Chega de racismo, chega de violência!”, afirmou em um vídeo nas redes sociais.
A Secretaria de Cultura informou que acionará o artista responsável pela obra para restaurar o grafite. Movimentos sociais também se manifestaram. A União da Juventude Socialista (UJS) cobrou providências imediatas. “É necessário que medidas sejam tomadas para que isso não volte a acontecer em nossa cidade. O caso acende um alerta sobre a violência política de gênero e racial. Não há espaço para racismo em nossa cidade”, afirmou a diretora executiva da entidade, Sílvia Fernandes.
Em 2023, a pintura já havia sido vandalizada, mas foi restaurada. Agora, o episódio reacende o debate sobre intolerância, racismo e a preservação da memória de figuras simbólicas na luta por igualdade.
Em nota, a Prefeitura de Petrópolis repudiou o episódio, classificando-o como criminoso e uma afronta ao patrimônio público, à liberdade de expressão e à cultura. A Secretaria de Serviços, Segurança e Ordem Pública já revisa imagens de câmeras da região para tentar identificar os responsáveis. O caso foi registrado na 105ª Delegacia de Polícia e será investigado como dano ao patrimônio público.