O transporte público da cidade voltou a enfrentar problemas nesta quarta-feira (24), quando rodoviários da empresa Turp Transportes realizaram uma paralisação por falta de pagamento. Os trabalhadores, que deveriam ter recebido o adiantamento salarial no último dia 20, cruzaram os braços no início da noite, interrompendo temporariamente o serviço. Na manhã desta quinta-feira (25), os ônibus voltaram a circular, mas o clima de incerteza permaneceu.
A paralisação expôs mais uma vez a crise que a empresa atravessa. De acordo com relatório da CPTrans enviado à Justiça na mesma quarta-feira (24), a Turp descumpriu várias metas estabelecidas para melhorar o serviço prestado à população. Entre os dias 1º e 15 de setembro, a companhia não conseguiu retomar seis linhas que permanecem inoperantes. Em algumas regiões, o atendimento só tem sido garantido por linhas alternativas, com frota reduzida.
Outro ponto crítico foi a operação em linhas consideradas estratégicas, como a 600 (Terminal de Corrêas – Centro), 701 (Pedro do Rio) e 750 (Terminal de Corrêas – Terminal de Itaipava). O relatório apontou que essas rotas sofreram intermitência ou ausência total de ônibus, prejudicando milhares de passageiros.
Empresa não utilizou 100% da frota
A frota contratual também não foi cumprida. O número de veículos exigidos por contrato é de 124, mas a empresa operou com média de apenas 116 por dia útil – ou seja, 94% do previsto. Além disso, a Turp aumentou o número de infrações por supressão de viagens (quando o ônibus deixa de rodar). A média diária passou de 4 para 11 viagens canceladas, reflexo direto da falta de motoristas.
O que diz a empresa sobre a paralisação?
Na tentativa de justificar a paralisação dos rodoviários, a Turp alegou que os atrasos da Prefeitura no repasse do subsídio do Vale-Educação comprometeram o caixa da empresa, dificultando o pagamento de salários. Segundo a nota, ficou pactuado em julho que os repasses seriam feitos nos dias 10 e 20 de cada mês, mas os depósitos não vêm sendo realizados dentro do prazo.
Por outro lado, a Prefeitura de Petrópolis afirmou que, mesmo com o aumento da tarifa, conquistado na justiça pela empresa, a Turp segue sem cumprir os compromissos com os trabalhadores. A Prefeitura reforçou que em 2025 realizou o parcelamento de valores do Vale Educação que estavam atrasados desde 2024, e que vem cumprindo estes pagamentos. Além disso, mesmo com as dificuldades financeiras enfrentadas, vem realizando os repasses do Vale Educação deste ano, que neste mês o vencimento se deu no último sábado (21/09), ou seja, o salário dos rodoviários não poderia estar condicionado ao pagamento por parte da Prefeitura.
4ª paralisação em nove meses
Enquanto empresa e poder público trocam responsabilidades, a população segue sendo a mais prejudicada. Passageiros relatam esperas longas, ônibus lotados e viagens suprimidas, um cenário que se repete ao menos desde o início do ano. Essa foi a quarta paralisação em apenas nove meses, acentuando a desconfiança dos usuários em relação à capacidade da Turp de manter o transporte público da cidade.
RMO de julho confirma histórico negativo da empresa
Nesta semana, também foi divulgado o Relatório Mensal de Operação (RMO) referente a julho, que reforça o histórico de falhas da Turp. O documento mostra que a empresa programou 40.456 viagens, mas conseguiu realizar apenas 35.044, o que representa 86,62% de cumprimento. Mais de 5 mil viagens foram canceladas, sendo que 5,5% desse total ocorreu devido a uma paralisação de motoristas.
Além disso, o RMO apontou 279 falhas mecânicas e 99 autuações por supressão de viagens (quando o ônibus deixa de circular sem justificativa). O relatório deixou claro que a Turp foi a concessionária com pior desempenho do sistema de transporte municipal em julho.
Referente aos questionamentos sobre os dados do RMO, a empresa foi questionada pelo Correio Petropolitano, mas não se pronunciou até o fechamento desta edição.