Os números mais recentes do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), vinculado ao Ministério da Saúde, acenderam um alerta em Petrópolis: mais da metade dos adultos acompanhados na rede pública apresenta sobrepeso ou obesidade. De acordo com o levantamento de 2025, 30,48% dos petropolitanos adultos estão com sobrepeso, enquanto 44,14% já têm algum grau de obesidade. Apenas um em cada quatro tem peso considerado adequado.
O dado preocupa especialistas, que apontam a gordura visceral, aquela acumulada na região abdominal, como um dos principais fatores de risco para infarto, AVC e diabetes tipo 2. Para o cardiologista e clínico geral Dr. Aloísio Barbosa Filho, a prevenção passa por uma mudança na forma de avaliar o corpo.
“A gordura visceral é um dos principais riscos cardiometabólicos. Ela produz substâncias inflamatórias que favorecem resistência insulínica, dislipidemia e hipertensão. Quando a bioimpedância aponta valores elevados, isso indica maior probabilidade de desenvolver doenças graves como infarto e AVC”, explica o médico, que atua em Petrópolis.
A bioimpedância é um exame simples e acessível, capaz de avaliar a composição corporal, diferenciando gordura, massa magra, água e taxa metabólica basal. O método vem se tornando cada vez mais presente em consultórios, clínicas e academias. Ao contrário do IMC (Índice de Massa Corporal), que se baseia apenas na relação entre peso e altura, a bioimpedância revela o que de fato compõe o corpo e oferece um retrato mais fiel do metabolismo.
“O monitoramento permite identificar precocemente as alterações e realizar intervenções médicas e nutricionais antes que surjam complicações”, reforça o Dr. Aloísio. Ele lembra que o exame é indicado não apenas para quem já tem sobrepeso, mas também para pessoas aparentemente saudáveis. “Já encontramos pacientes assintomáticos com alto nível de gordura visceral. É um alerta silencioso para mudança no estilo de vida”, diz.
A nutricionista Kenya Farnum acrescenta que a bioimpedância é uma ferramenta poderosa tanto na prevenção quanto no acompanhamento de tratamentos. “Enquanto a balança mostra só o peso, a bioimpedância separa gordura, músculo, água e ossos. Isso nos ajuda a entender se a pessoa está realmente emagrecendo ou apenas perdendo massa magra”, explica.
Ela destaca que o exame também permite identificar padrões de acúmulo de gordura que ajudam a diagnosticar riscos específicos. “A gordura concentrada na barriga pode indicar resistência à insulina e risco cardíaco; já o acúmulo no pescoço pode sinalizar apneia do sono e síndrome metabólica. Quando cruzamos esses dados com a avaliação clínica, conseguimos orientar o paciente de forma muito mais precisa.”
A especialista alerta ainda para os equívocos comuns na busca pelo emagrecimento rápido. “Muita gente está emagrecendo com as canetas, perdendo massa magra em vez de gordura, e acreditando que isso é saudável. A bioimpedância mostra claramente quando isso está acontecendo”, afirma.
Segundo Kenya, o ideal é repetir o exame a cada dois meses para quem está em programas de emagrecimento ou ganho de massa, e a cada seis meses em avaliações de rotina. “Os resultados são sensíveis à alimentação e à hidratação, por isso é importante realizá-lo em condições semelhantes”, orienta.
Para o Dr. Aloísio, a principal lição é que o exame deve ser visto como parte de um cuidado integral. “A bioimpedância é um espelho metabólico. Cuidar da composição corporal, reduzindo gordura visceral e preservando massa magra, é cuidar do coração. O mais importante é usar esses dados como motivação para manter hábitos saudáveis: alimentação equilibrada, atividade física, sono adequado e acompanhamento médico regular.”
Com a obesidade em crescimento e o acesso cada vez maior a exames preventivos, especialistas acreditam que a bioimpedância tende a se consolidar como parte dos check-ups de rotina. Em Petrópolis e em todo o Estado do Rio, a tendência é que o “peso na balança” deixe de ser o foco, dando lugar à qualidade do que o corpo carrega por dentro.