Cidade tem dia marcado por cultura, fé e luta contra o racismo e a intolerância religiosa
A Praça da Liberdade se transformou, nesta quinta-feira (20), em um grande palco de celebração da cultura afro-brasileira. A 13ª edição da Festa Ubuntu reuniu música, dança, contação de histórias e diversas homenagens pelo Dia da Consciência Negra, uma data de luta, memória e afirmação da identidade do povo negro no Brasil.
O evento levou para o centro histórico de Petrópolis um dia inteiro de atividades gratuitas e abertas ao público. Para muitos participantes, estar ali é reafirmar a importância de reconhecer a história e combater o racismo. “Para todos é um dia comum, mas para a gente que tem o tom de pele negra, é um significado muito grande. Porque preto é uma cor, negro é uma raça”, afirmou Carina de Oliveira, que participou das atividades.

As marcas da Praça da Liberdade
O local onde acontece a festa também carrega grande simbologia. A Praça da Liberdade recebeu esse nome porque, ali, escravos libertos se reuniam para juntar dinheiro e comprar a liberdade dos companheiros que ainda estavam escravizados. A história faz do espaço um marco de resistência e memória, elementos que dialogam diretamente com o significado do 20 de Novembro.
Caminhada do Povo do Santo
Além da Festa Ubuntu, o feriado também foi marcado pela tradicional Caminhada do Povo do Santo, organizada pelo coletivo Povo do Santo. Esta foi a 5ª edição do ato, que saiu da Praça da Inconfidência e seguiu até a Praça da Liberdade, reunindo centenas de pessoas.
O sacerdote umbandista Pedro Nogueira explica que a caminhada surgiu como uma resposta às violências sofridas pelas religiões de matriz africana. “De lá para cá, nós começamos a fazer essa caminhada contra as intolerâncias de um modo geral e contra o racismo religioso, que é um braço do racismo estrutural”, afirmou.
A zeladora Luciana Almeida destacou a importância de ocupar espaços públicos para combater o preconceito. “Para mim é muito importante celebrar esse Dia da Consciência Negra. Falar da minha religião é muito bom, visto que Petrópolis tem muito preconceito, onde a gente sofre muita discriminação”, afirmou ela.
Homenagem a Zumbi dos Palmares
Ao final da caminhada, houve uma homenagem a Zumbi dos Palmares, símbolo máximo da resistência negra no Brasil. A atividade reforçou a importância da ancestralidade, da fé e da preservação das tradições afro-brasileiras.
Pedro Nogueira destacou esse sentido: “Para nós, isso significa rememorar e comemorar a nossa ancestralidade, e transformar esse ato de resistência em um movimento de existência”.
Caminhada vira patrimônio imaterial
Este ano, o ato ganhou um reforço institucional importante. A Câmara Municipal aprovou o Projeto de Lei que reconhece a Caminhada do Povo do Santo como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial de Petrópolis. O texto é de autoria da vereadora Professora Lívia Miranda.
Segundo a parlamentar, o reconhecimento é um marco para a cidade. “As pessoas que são de diversas manifestações de fé, que são tidas ainda como minorias, reconhecem nesse documento, uma forma de legitimação”, afirmou.
Na justificativa do projeto, a vereadora afirma que a caminhada se tornou um símbolo da identidade cultural petropolitana e um espaço essencial de enfrentamento ao racismo religioso.
Os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), citados no documento, mostram que Petrópolis está entre os municípios com maior número de casos de racismo e intolerância religiosa no estado, um cenário que reforça a urgência de políticas públicas que garantam respeito, diversidade e proteção à liberdade de crença.
Com grande presença popular, a Festa Ubuntu e a Caminhada do Povo do Santo reforçaram a importância do 20 de novembro como um marco de resistência, diálogo e valorização da cultura negra em Petrópolis.
Texto: Mariana Braga
Foto: Mariana Braga e Gabriel Teles/TVC