A proposta de abairramento da cidade, para formalizar 55 bairros e 44 localidades de Petrópolis, está em processo final para ser oficializada. No entanto, historiadores e preservacionistas temem pelo futuro dos quarteirões históricos. Com o projeto de formalização dos bairros petropolitanos, que até os dias atuais não constam oficialmente nos documentos municipais, as históricas nomenclaturas, como os quarteirões Suíço, Ingelhein, Brasileiro, Renânia, poderão se perder na história.
A planta urbanística da Imperial Colônia de Petrópolis, elaborada pelo major Julio Frederico Koeler, que inicialmente dividiu o território em duas vilas centrais e 11 quarteirões é datada de 1846. O trabalho promoveu Petrópolis como sendo a primeira cidade a ser planejada do Brasil. Em 1854, dando seguimento ao trabalho iniciado por Koeler, Otto Reymarus criou outra planta, acrescentando mais 11 quarteirões, totalizando os 22 quarteirões, que ainda hoje, constam nos registros dos imóveis do primeiro distrito do município. Em 1861, Carlos Augusto Taunay redesenhou a planta. Outros registros da Companhia Imobiliária de Petrópolis acrescentam mais quarteirões, totalizando 29 quarteirões, três vilas e um setor localizados no primeiro distrito.
Boa parte dos nomes dados aos quarteirões serviram para homenagear os imigrantes alemães que se estabeleceram na então colônia. Os demais, aos brasileiros que ajudaram na formação da cidade entre outros pessoas e situações do momento de sua formação, como a Vila Tereza, em homenagem à Família Imperial.
Esta é apenas uma parte de uma rica história que marca a formação de Petrópolis e que ainda repercute por meio das nomenclaturas que não foram apagadas pelo tempo. Ao contrário disso, o movimento dos historiadores é para que não apenas sejam mantidos os quarteirões, mas que estes traçados históricos continuem a existir.
Entidades pedem preservação
No último dia 27 de novembro, historiadores e preservacionistas, representando 10 entidades, entregaram ao prefeito Hingo Hammes uma carta aberta solicitando apoio para a preservação dos quarteirões históricos. No documento, eles apontam dados históricos e leis como respaldo para a preservação dos quarteirões, como a Lei Municipal 5699, aprovada na Câmara Municipal e sancionada no ano 2000, que reafirma a relevância desse planejamento urbano, determinando uma série de medidas em favor de sua preservação e a própria Constituição Brasileira que define o que são os patrimônios culturais e históricos.
“O patrimônio histórico e cultural, que se espalha desde a Vila Imperial (Centro Histórico) até os quarteirões, constitui um rico conjunto de edificações históricas e paisagens naturais tombadas. Esse rico patrimônio, traduzidos em um direito e responsabilidade de todos, conforme previsto em legislações e documentos orientadores, como a própria “Carta de Petrópolis” de 1987″, diz um trecho da carta.
O documento é assinado por representantes do Clube 29 de Junho, Instituto Histórico de Petrópolis (IHP), Casa de Portugal, Casa D’Itália Anita Garibaldi de Petrópolis, Instituto Bingen, Associação dos Grupos Folclóricos Alemães, Associação Guias de Turismo, Conselho Municipal de Turismo, A Nova Brücke e Igreja Luterana de Petrópolis.
“No nosso entendimento, devem ficar preservados os nomes originais. Nos distritos, de fato, os bairros existentes não estão delimitados e legalmente registrados. Eles constam como apelidos de localidades, ou seja oficialmente não existem. Somos favoráveis que a cidade delimite as fronteiras dos bairros que não estão ainda delimitados, mas que não mexam nos quarteirões que já estão delimitados desde 1846 por Julio Frederico Koeler”, disse o historiador e representante do Clube 29 de Junho, Pedro Troyack.
Abairramento
A proposta de oficialização dos bairros em Petrópolis extinguirá oficialmente os quarteirões. O projeto de abairramento foi desenvolvido por um grupo de trabalho criado pelo conselho do Plano de Revisão do Plano Diretor do município. Nos últimos meses, foram criadas consultas públicas e também audiências públicas na Câmara dos Vereadores para discutir o assunto. O projeto deverá ser aprovado pelo Legislativo para que haja a modificação no Plano Diretor afim de oficializar os bairros.
O trabalho de abairramento está sendo finalizado nos demais quatro distritos do município, Cascatinha, Itaipava, Pedro do Rio e Posse. Estas localidades não fazem parte da planta Koeler.
As Vilas, Setor e Quarteirões de Petrópolis
Planta de Júlio Koeler
(1846):
2 Vilas e 11 Quarteirões
01) Vila Imperial
02) Vila Thereza
01) Quarteirão Renânia Inferior
02) Quarteirão Renânia Central
03) Quarteirão Palatino Inferior
04) Quarteirão Palatinato Superior
05) Quarteirão Westfália
06) Quarteirão Bingen
07) Quarteirão Mosela
08) Quarteirão Siméria
09) Quarteirão Ingelheim
10) Quarteirão Castelânea
11) Quarteirão Nassau
Planta de Otto Reimarus (1854):
11 Quarteirões
01) Quarteirão Darmstadt
02) Quarteirão Worstadt
03) Quarteirão Worms
04) Quarteirão Renânia Superior
05) Quarteirão Brasileiro
06) Quarteirão Inglês
07) Quarteirão Suisso
08) Quarteirão Francês
09) Quarteirão Português *
10) Quarteirão Presidência
11) Quarteirão Princesa Imperial
* consta em algumas literaturas, porém não consta no mapa de Reimarus
Ainda há outros 9 (conforme informações repassadas pela Companhia Imobiliária de Petrópolis):
1 Vila, 1 Núcleo e 7 Quarteirões
01) Vila Isabel
01) Núcleo Independência
01) Quarteirão Medina Sidônia,
02) Quarteirão Ipiranga
03) Quarteirão Leopoldina
04) Quarteiro Grão Pará
05) Quarteirão Mineiro
06) Quarteirao Itamaratí
07) Quarteirão Italiano
O que diz a prefeitura
A Secretaria Municipal de Planejamento e Orçamento informa que entende a importância da organização dos quarteirões, que foram definidos no Plano Koeler, para a história de Petrópolis. E por isso, o texto base do projeto de lei de formalização dos bairros, que tão logo seja aprovado pelo CRPD, será amplamente divulgado, e contará com a preservação dos nomes dos quarteirões juntamente com os nomes dos bairros.