Do Caxambu para o coração de Petrópolis, a trajetória de Gabriela Ribeiro revela como a moda pode ser uma ponte entre o trabalho manual e o autoconhecimento.
Há fases em que o espelho parece falar outra língua. O corpo muda, a rotina muda, e a gente às vezes se perde da imagem que sempre teve de si. Foi dessa sensação, comum, silenciosa, quase universal, que nasceu um movimento em Petrópolis, liderado por uma jovem mulher que entendeu que vestir-se pode ser um ato de reencontro.
Gabriela Ribeiro cresceu no Caxambu, uma região rural de Petrópolis. Filha de produtores, aprendeu desde cedo o valor do trabalho e da venda: acompanhava as plantações da família, ajudava nas feiras livres e observava as trocas que aconteciam ali, muito antes de saber que, anos depois, faria o mesmo em outro tipo de comércio.
Enquanto cursava Fisioterapia, decidiu empreender para custear os estudos. E foi assim que, entre tecidos, cores e instinto, nasceu a primeira versão daquilo que viria a se transformar em sonho realizado, numa das principais vias do coração da cidade, além de ser um espaço simbólico de acolhimento e expressão feminina.
“A moda sempre foi uma forma de falar sem precisar explicar. Quando uma mulher se veste, ela está dizendo ao mundo como quer ser vista, mas acima de tudo, está dizendo a si mesma que ainda se enxerga”, reflete.
Hoje, o que começou em uma barraca de feira se transformou em um lugar de encontro. E não só entre roupas e clientes, mas entre mulheres e suas próprias histórias.
As embaixadoras da marca são parte essencial desse processo. Elas se reúnem com frequência para conversar sobre moda, mas também sobre os filhos, os afetos, o trabalho e o tempo, encontros que se tornaram quase terapêuticos, onde o espelho não é inimigo, mas confidente.
“Foi um resgate de conexão comigo. Celebrar meu estado de espírito: de ser, de estar, de agir”, conta Alessandra Serpa. A cantora Juliana Lima diz que se reconhecer novamente foi um ponto de virada: “As minhas roupas não me acompanhavam mais. Me olhar e ver uma mãe linda e completa era tudo que eu precisava.”
“Estava numa fase que não dava vontade de levantar e sair de casa. Mas precisava trabalhar e queria conforto para os meus dias”, relembra Iara Medeiros. “Fui modelo, magra, escultural e hoje, mãe de três, a mudança do meu corpo mexia comigo. Quero levar isso para outras pessoas: o que é ser mãe, mulher e empoderada. Hoje, estou voltando a enxergar aquela mulher que estava perdida dentro de mim.”
Para Débora Fernandes, 49 anos, o processo representou um reencontro com a maturidade e o próprio estilo: “Eu sou uma mulher madura, que tem um jeito de se vestir que reflete personalidade, valores, elegância e conforto. Foi como um encontro com a minha essência.”
Já Louize Martins, publicitária, fala com leveza sobre o propósito por trás de tudo: “É um enorme prazer disseminar uma cultura de amor, acolhimento de diferentes corpos e pessoas reais, que estão bem com o que são e com o que usam.”
Mais do que uma marca, o projeto de Gabriela Ribeiro é um convite ao reencontro. Um espaço de escuta, de criação e de afeto, onde vestir-se é também uma forma de lembrar quem se é.