A Comissão Especial sobre a Memória Negra e Trabalhadora de Petrópolis (CEMNT), da Câmara Municipal, lançará, no dia 8 de julho, no CEFET às 19h, seu relatório final, um documento inédito que apresenta um diagnóstico aprofundado sobre o racismo estrutural e a invisibilização histórica da população negra e da classe trabalhadora na cidade. Fruto de mais de 190 dias de atividades, o relatório sistematiza dados, registros e escutas realizadas no território e propõe um conjunto de ações concretas para o fortalecimento de políticas públicas antirracistas em Petrópolis.
Instaurada e presidida pela vereadora Júlia Casamasso (PSOL), a Comissão foi uma das propostas apresentadas durante a campanha eleitoral de 2020, no âmbito da candidatura coletiva da Coletiva Feminista Popular. Sua criação responde à urgência de enfrentar as desigualdades históricas e o apagamento sistemático de marcos fundamentais para compreender a formação social e econômica do município.
Reconhecida como Cidade Imperial, Petrópolis possui uma riqueza cultural que ultrapassa a tradição ocidental hegemônica. O município carrega também a memória de resistências, de lutas sociais e de contribuições fundamentais dos povos africanos escravizados e de seus descendentes, bem como das mobilizações operárias que marcaram o início da industrialização no Brasil. O relatório da CEMNT destaca a importância de políticas públicas que valorizem a memória popular, promovam a reparação histórica e reconheçam a centralidade da luta negra e trabalhadora na construção da cidade.
O documento reúne registros de visitas e reuniões com a comunidade quilombola da Tapera, ações de fiscalização nas oito escolas municipais certificadas com o Selo Escola Antirracista, além de encontros com movimentos sociais, pesquisadores, professores e lideranças comunitárias, organizados pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) do CEFET Petrópolis.
“A história de Petrópolis não pode continuar sendo contada sem a presença e a luta da população negra e da classe operária. É preciso garantir a titulação de terras e a estruturação de direitos para a comunidade da Tapera, bem como resgatar a memória das greves trabalhistas dos anos 1930, quando trabalhadores fabris organizaram uma paralisação de mais de uma semana na cidade. Este relatório é resultado de muito trabalho coletivo. Ele é, ao mesmo tempo, denúncia, valorização e proposta — um instrumento político que nos orienta para a construção de uma sociedade radicalmente diferente”, afirma a vereadora Júlia Casamasso.
A mesa de lançamento contará com a participação de Renan Ribeiro, coordenador do NEABI Petrópolis; José Luiz, coordenador do núcleo EDUCAFRO Petrópolis; Denise Barbosa, diretora cultural do Quilombo da Tapera; e Álvaro Penalva, professor e pesquisador dedicado ao estudo da classe operária em Petrópolis.