A maternidade é um dos primeiros e mais importantes vínculos formados na vida de uma criança | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
A maternidade é um dos primeiros e mais importantes vínculos formados na vida de uma criança. Desde o nascimento, a mãe é quem acolhe, protege e apresenta o mundo ao filho, oferecendo amor e segurança. No entanto, segundo a psicóloga e docente da Estácio, Ana Cristina Fabbri, o maior desafio da maternidade é preparar os filhos para a autonomia.
“O papel da mãe não é ser necessária para sempre, mas sim construir uma base emocional sólida para que o filho possa crescer e, um dia, seguir seu próprio caminho com segurança”, afirma Ana Cristina.
De acordo com a especialista, o desenvolvimento emocional da criança deve ser incentivado desde cedo, e o afeto é a principal ferramenta para isso. “O amor materno, manifestado no olhar, no toque, nas palavras e na presença, cria uma segurança interna que permite à criança explorar o mundo sem medo”, explica.
Segundo a especialista, o vínculo afetivo constante e coerente é fundamental para a formação da inteligência emocional. Ela acredita que crianças que se desenvolvem em ambientes amorosos aprendem a confiar em si mesmas e nos outros, o que se reflete em uma vida adulta mais saudável e independente.
A teoria do pediatra e psicanalista Donald Winnicott também é uma referência para entender essa dinâmica. Ele propôs o conceito da “mãe suficientemente boa”, que inicialmente atende às necessidades do bebê de forma responsiva, mas que, com o tempo, permite pequenas frustrações e desafios, essenciais para o amadurecimento emocional.
“Ao oferecer frustrações moderadas, a mãe ensina o filho a lidar com a realidade e a desenvolver autoconfiança”, explica Ana Cristina. “É preciso permitir que ele enfrente dificuldades, erre e aprenda com suas próprias experiências.”
Esse processo de transição é gradual. Nos primeiros anos de vida, a presença constante é fundamental. Com o crescimento, vêm pequenas doses de independência: deixar que a criança se vista sozinha, tome decisões simples ou resolva pequenos conflitos. Na adolescência, a busca por identidade própria exige ainda mais espaço e compreensão.
“O grande desafio é encontrar o equilíbrio entre proteção e liberdade”, alerta a psicóloga. “O excesso de proteção pode gerar adultos inseguros e dependentes, enquanto a ausência de suporte pode resultar em adultos carentes e inseguros em suas relações”
Para Ana Cristina, ser uma mãe “desnecessária” ao longo do tempo é, na verdade, um sinal de sucesso. “Significa que o filho aprendeu a caminhar com as próprias pernas, a lidar com os desafios da vida e a construir sua própria história. O amor materno permanece, mas se transforma: de porto seguro para impulso ao voo”, conclui.
Ana diz que a missão da maternidade consciente é formar indivíduos capazes de viver e amar com autonomia, sabendo que os laços construídos com amor verdadeiro não se rompem, apenas se transformam.